terça-feira, junho 27, 2017

Cheira a sangue quente


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Aqueles que já tenham ido a um Safari, poderão ter tido a oportunidade de ver uma alcateia de leões (juro que aprendi hoje que um colectivo de leões se chama alcateia, como os lobos e as hienas…) atacando um javali. Cerca de uma dezena de leoas e um macho imobilizam o bicho e com uma voracidade de descrição só possível a alguém com génio e arte para o fazer. O bicho guincha, debate-se e os felinos vão abocanhando as partes mais sensíveis, arrancando partes do corpo e a tragédia arrasta-se por alguns minutos, não tão escassos como se possa pensar, espalhando um cheiro quente a sangue até o javali se render e definitivamente se imobilizar, à medida que vai sendo mastigado vivo e escorrendo o sangue que tinge os focinhos dos felinos esfaimados.

Não sou muito de caças…sou até mais de pescas. Mas sempre tive a mania de mostrar tudo aos meus filhos, o bom e o mau e calhou um de par de vezes levá-los a safaris. E uma vez assisti a uma cena destas que acabei de descrever. E porque falo nisso? Porque é exactamente o que me ocorre, desde que o inábil Passos Coelho se pôs à mercê da alcateia, com a história do suicídio. E a alcateia lusa pode até ser amestrada e sofrer de nepotismo crónico e irreversível. Mas não é por isso que rejeita o sangue. E Passos Coelho será o javali da história, sendo verdade que frequentemente se põe a jeito para isso. E daí o recente banquete em que a alcateia rugiu, correu, abocanhou e mordeu e mastigou. E andam ainda por aí com os narizes cheios de sangue viscoso a cheirar a quente. As televisões então, impressionam. O pobre “javali” até pediu desculpa, mas a alcateia não aceita. Gosta mais de ser embrulhada na javardice em curso que se prepara com afinco para se reunir e “discutir” a desgraça de Pedrógão cuja responsabilidade há-de cair inevitavelmente “no governo anterior”.

Entretanto, o pobre javali ainda mexe. Mas está quase exangue, moribundo. Não sei se desta ele escapa.


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