A desejada fossilização a prazo
O poeta divide os socialistas entre os genuínos e os outros.
E depois debita mais um rol de vulgaridades de onde releva o ferrete desta
gente. Nascem no «reviralho», aderem à conveniência benfazeja do socialismo
quando crescem, mesmo que para isso tenham de fazer uma série de condenáveis
tropelias e usar um hediondo oportunismo, e envelhecem a berrar, na secreta
esperança de terem um funeral na Basílica da Estrela com uma série de notáveis
em arenga apropriada no velório, com muitas televisões a filmar. Quem sabe,
até, ser levados para o Panteão.
Desde que comecei a entender minimamente a política e me
concedi os meios para isso, eu concluí que a única forma de nos vermos livres
destes puros (e então quando são poetas ou escritores, mais ainda) é que eles
acabem por se extinguir, mais ou menos assim ao estilo do lince da Malcata. Serenamente,
sem dor, dando lugar a estas gerações novas que, saudavelmente, andam já por aí e que encolhem
os ombros com a indiferença que os Alegres e correlativos lhes merecem. Provavelmente
extingo-me eu primeiro, mas guardo ciosamente esta esperança que estas
criaturas atinjam com celeridade a fase de extinção. Mesmo que fique por aí um
ou outro celacanto que, mais não seja, terá sempre a virtude de proporcionar uma
ou outra prédica vagamente científica, do tipo «no tempo em havia socialistas».
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Etiquetas: Manuel Alegre, poesia avançada, sufoco socialista, vale mais um pássaro na mão que a mão...
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