quinta-feira, junho 29, 2017

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As aves migratórias dispõem de dispositivos naturais que lhes permitem a navegação migratória e a orientação. Os gansos são aves migratórias e dispõem, consabidamente, de um extraordinário poder de orientação, recorrendo a sistemas orográficos, hidrológicos, linhas costeiras continentais, ao sol, durante o dia, ou orientação estrelar durante a noite. A temperatura e humidade relativa de massas de ar também contribuem para esta faculdade de orientação e até o campo magnético terrestre contribui decisivamente para o rumo das aves migratórias.

O ganso é, geralmente, uma ave migratória. Sobretudo se falamos daqueles que mantêm em si o princípio activo da liberdade, a centelha do gosto pela aventura e pelo desconhecido. Ou, simplesmente, na procura de melhores condições ambientais. E, assim, o ganso usa todas as suas capacidades naturais para se lançar no espaço e proceder às viagens que lhe configuram a essência.

Tem vezes, porém, que as linhas costeiras continentais, as amplitudes térmicas, o sol encoberto por nuvens ou estrelas embaciadas por névoas inesperadas e até fenómenos de mutações orográficas ou hidrológicas se alteram por razões não inteiramente conhecidas. E nessas vezes, o ganso mantem-se voando mas sem saber exactamente para onde migrar. Deixa-se levar pelo vento e estende bem as asas para ganhar sustentação de voo. E vai. Sem saber exactamente para onde, porquê, ou por quanto tempo. Sem saber se vai para Norte, para Sul, se sobe, se desce. Simplesmente, vai. E enquanto vai, percebe que migrações desta natureza são impropriamente chamadas de migração. Porque não são mais que uma atitude reflexa de um conjunto de factores que o fez descolar, tomar altura e voar.

Um dia descobre algum recanto acolhedor e pousa. Ou não. E, simplesmente, vai. Continua indo. Provavelmente até se cansar e acabar por pousar, mais por necessidade do que por ter vislumbrado algum espaço convidativo. Mas enquanto não cansa. Vai. Voa. Simplesmente, vai.


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