José Alberto Carvalhice
É «isto» o que espera os nossos emigrantes em Amsterdam. Como é que eles não hão-de querer voltar para os braços das mães deles?
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O anti-passismo, passe o neologismo mais ou menos pateta,
não tem limites. Ainda há dia algumas pessoas (não muitas) se insurgiam contra
a criteriosa escolha de «perguntadores» ao primeiro-ministro. Deram nas vistas
alguns deles, sendo que houve um a quem foi dada a prerrogativa de fazer um
comício antes da pergunta. Sendo que a pergunta era qualquer coisa como porque é que ele nasceu do lado errado, ao contrário
do primeiro-ministro que terá nascido no lado certo.
Claro que o episódio foi razoavelmente burlesco para ser
levado a sério por gente de bem mas, ainda assim, não deixou de merecer reparos
e José Alberto Carvalho não escapou a merecidas críticas. Mas houve um pormenor
em que poucos parecem ter reparado. No fim das perguntas, José Alberto Carvalho
afivelou o sorriso do repórter expedito e pediu a Passos Coelho um comentário a
uma canção «muito em voga» (SIC). E a canção veio. Por acaso eu até já me tinha
referido a ela há algum tempo atrás. Mas quando se goza Passos Coelho por nos
ter chamado piegas (o que, de resto, não é verdade, ele não chamou piegas a ninguém,
mas foi o que ficou) e se põe a rodar uma canção tenebrosa do não menos
tenebroso Pedro Abrunhosa, onde se diz que a Alemanha é cinzenta, a saudade é
tamanha, e o Verão que nunca mais chega e o Abrunhosa quer ir para casa, pisar
a terra em brasa (o quentinho dos portugueses) e voltar para os braços da
mãezinha. Para além de que o homem emigrou mas levou um pouco de terra a cheirar
a pinheiro e a serra e a imagem de pombas a voar no beiral…e depois, em Amsterdam,
não é que aquilo está cheio de putas, compra-se amor pelo jornal, logo ele que
até tem diploma que leva na mala mas deixou o amor para trás. E em Paris? O
frio que faz? Ná… ele quer é voltar para os braços da mãe. Problema é que o Passos
Coelho não deixa, mandou os jovens emigrar e anda a roubar nas pensões dos
pais.
Se há dúvidas na pequenez, mesquinhice e mariquice da canção
e na grandeza da chico-espertice de Abrunhosa e Carvalho é ler a letra toda
aqui. E quando me lembro da crítica das letras das «cançonetas» e do «nacional-cancenotismo» do Estado Novo, não posso deixar de reflectir que não só comemos daquilo que
gostamos como estamos, sem dúvida, a refinar os nossos méritos. José Alberto
Carvalho, a sério ou em provocação, escolheu a canção certa para pedir a
opinião de Passos Coelho.
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Etiquetas: Ai Portugal, campanha para legislativas, comunicação social
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