Está-nos nas tripas
Onze horas de voo sem escalas trazem-me de regresso a Portugal.
E por muito que eu tentasse abstrair-me do facto, não houve como consegui-lo.
Uma tripulação masculina com aquela barba que se usa agora, uma barba de cinco dias
que nem é barba nem é barba por fazer e que é a imagem de marca do homem (português)
novo, avisou-me que estava de volta à paróquia. Ainda fiquei à espera que a
tripulação feminina usasse, pelo menos, um buço apresentável, mas não
aconteceu. Tirando a barba, tenho de registar a eficiência e simpatia dos
barbudos e alguma «coqueterie» delas, sempre benvinda.
Onze horas sem escala passaram com normalidade e com o
conforto de poder escolher entre cerca de quarenta filmes e uma refeição sofrível
mas comível. Mas a achegada a Lisboa despertou-me de novo para as realidades de
um país malcriado. Na fila e guichet para apresentação dos passaportes, para aí
uns quinze, subdividida em passageiros da Europa e outros, estava UM ÚNICO
oficial do SEF carimbando os ditos. Naturalmente que poucos minutos depois a
bicha de europeus e não europeus era uma, una e indivisível apenas desfeita de cada vez que
cada uma daquelas famílias, cheias de saris e de filhos, cumpria as
formalidades.
Eis que aparece um segundo oficial do SEF a quem fiz ver a inadmissibilidade
de haver apenas um funcionário para toda aquela gente (cerca de 250 pessoas). O
SEF respondeu-me com aquela truculência em uso nesta repartição, dizendo que a
culpa não era dele. Eu que me queixasse ao primeiro-ministro. Não me contive e
com a polidez que o meu pai me inculcou de pequenino, disse-lhe que lamentava
este cartão de visita. Dizer alto e bom som que a culpa era de Passos Coelho. E
disse-lhe mais. Que ainda que o fosse, ele tinha a responsabilidade de apresentar
desculpas e reclamar lá pelas «vias competentes» (se há coisa em que somos
exímios é em vias competentes) sobre fosse o que fosse que fazia com que houvesse
um funcionário para uma longa lista de guichets às moscas. Disse-lhe que estava
a fazer um mau serviço, sem respeito por hierarquias, sem respeito pela
instituição que serve, sem respeito por aqueles que lhe pagam o salário. E,
ainda, por aqueles que pagaram um bilhete e passagem aérea para serem servidos
com competência e eficiência. E, já agora, com educação.
O homem surpreendeu-me, ao começar a bater a bola baixo
Talvez tenha pensado que eu era alguém da «nomenklatura». O que abona a minha
opinião de que somos, em geral, cobardes, apenas picados pelo vírus da
truculência e do desrespeito pelas instituições. Assim «à la mode» de Soares, criatura
malcriada e com imenso espírito socialista quando berrou com o polícia que
pedia documentos a um viatura onde ele se encontrava.
Portugal igual a si próprio.
Nota: Episódio a 20/7/15 cerca das 18:15
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Etiquetas: coisas más, SEF
1 Comments:
na mouche
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