As sereias de Ulisses eram socialistas?
È preciso não confundir as coisas e, sobretudo, não nos
deixarmos afogar em considerandos técnicos do domínio da economia. É preciso
não resvalar para a ideia fácil de que um punhado de aventureiros levou a
Grécia para a desgraça. Quem realmente aproximou os gregos do abismo foram, como
de costume, os socialistas com as suas tiradas e medidas infantis, em nome de
uma ideologia que nem eles próprios sabem qual é. Qualquer coisa abastardada de
um comunismo definhado e estéril, com efeito residual nos chamados socialistas
democráticos, herdada do romantismo da faculdade, do Maio inebriante da Paris
soixante-huitard ou cristalizada no sistema amorfo da idiotia. Foram os
socialistas que conduziram a Grécia para uma situação sem retorno com as suas
infantilidades habituais, mais o inevitável nepotismo, compadrio, venalidade e,
em cima de tudo, uma total irresponsabilidade sobre as inevitáveis
consequências que se abateriam sobre os eleitores, aqueles que de boa fé, vão
dando o seu voto apoiado nas cantatas e promessas das campanhas eleitorais.
Os gregos tiveram ainda o azar de enveredarem, objectivamente,
pelo voto num partido de aventureiros sem escrúpulos. Sentindo-se à beira do
abismo, não cuidaram de tentar perceber como chegaram até ali, mas sim avalizar
quem prometia salvá-los da queda. E foi o que se viu. Mais dia menos dia vem aí a verdadeira tragédia. Porque aqueles a quem foi dado o voto da salvação, mais
nada saberão fazer que dar o último empurrão para o abismo. Quiçá convencidos
que o bluff e a atitude espúria de uma arrogância própria deste tipo de aventureiros
lhes traria os louros da vitória.
Que ao menos esta situação sirva para iluminar aqueles que
se acham, eles sim, iluminados. Desde os que em algazarra patética, como o já impossível
António Costa, se regozijaram com o Syriza até aos que, diligentemente, puxam dos galões e se atiram a exercícios de verdadeiro malabarismo para explicar e justificar a teoria de quanto pior melhor. Mas não ver ser fácil. Que isto da
idiotia dos socialistas é um bocado como o imaginativo slogan de Pessoa à
Coca-Cola, «primeiro estranha-se, depois entranha-se».
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Etiquetas: coisas perigosas, Grécia, socialismos
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