A jornalista modelo
Fernanda Câncio começa assim a sua crónica de hoje no DN, a
propósito da invasão de cerca de 600 pessoas de pele escura (palavras de
Fernanda) que resolveram ir ao Centro Comercial Vasco da Gama fazer uma série
de tropelias e protestar conta o racismo em Portugal. A partir daqui, Fernando
exercita a habitual retórica da culpabilização das pessoas de pele mais clara
(palavras dela) e, de caminho, malha nos polícias a quem chama, mesmo, de polícias-modelo.
No fundo, este episódio é um bocadinho como uns pudins que a
minha mãe fazia quando eu era pequenino. Após a cozedura, ela virava a forma do
pudim de pernas para o ar e eu quedava-me extasiado com a perícia da minha mãe.
Aqui é mais ou menos a mesma coisa. Vira-se o pudim e em vez de um polícia temos uma jornalista-modelo
que, pelo visto, não percebe ou não quer perceber nada sobre as graves
incidências de política de migração (esta foi-me ensinada hoje por um
sociólogo), com as quais é preciso lidar segundo duas premissas básicas. Uma, a
de que quem cá está emigrado tem de, incondicionalmente, aceitar as regras de
uma autoridade democrática que não pode permitir que lojistas e clientes sejam
ameaçados por umas centenas de cidadãos de pele mais escura (palavras da
Fernanda) que resolveram confraternizar (?) num centro comercial (parece que a
próxima confraternização é o luto pelo fim do Verão). A outra é a de que a
questão do racismo é uma teia complexa de sensibilidades que não dá para
resolver por uma qualquer jornalista cheia de ideologias e ideias feitas que se
compraz em chamar modelo aos nossos polícias e deixar a ideia de que somos um
bando de racistas. A Fernanda, pelo que me parece, não percebe nada de África,
de racismos nem de pessoas de pele mais escura. Aparentemente, também não é
brilhante em pessoas de pele mais clara. Ela devia envolver-se
(propositadamente ou sem querer) num episódio em que pessoas de pele mais clara
fizessem um «meet» qualquer em Luanda, Bissau ou Maputo e escrever uma crónica
sobre a forma como os polícias a deixariam ou não entrar. Quem sabe, até, se o
facto de a Fernanda ser uma mulher bonita e atraente não poderia até
condicionar ou complicar o assunto.
A crónica da Fernanda é um disparate completo. Revela ignorância
e uma pretensa ideologia, numa situação em que mais do que a ideologia o que se
precisa é a aplicação da autoridade, bem vista a necessidade absoluta de que
seja uma autoridade democrática e civilizada. Mais ou menos como, por exemplo,
me ocorre, quando a selecção angolana perdeu um jogo de futebol qualquer em
Alvalade, saiu do campo, resolveu partir a estação do metro no Campo Grande e a polícia, tanto quanto me ocorre
ter lido, resolveu a situação com ourelo, paciência e competência. Mas nesse
dia a Fernanda devia estar distraída.
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Etiquetas: comunicação social, Fernanda Câncio
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