Pronto,mãe. Partiste
Pronto, mãe. Partiste. Serena e bonita, com os filhos todos
a mimar-te até aos últimos momentos.
Até há poucas semanas atrás, dizias que um dia destes ias
ter com o pai que estava à tua espera. Falavas com a grandiloquência da tua
simplicidade e com tanta sinceridade como quando dizias que não eras capaz de
terminar uma refeição sem sobremesa. Pois, lá foste tu, mãe. Por isso escolhi
esta foto, de resto a foto que fizeste questão de me oferecer como prenda do
meu aniversário, há poucos dias atrás, e porque nada, como ela, ilustra o
desejo que ias manifestando nos últimos tempos.
Tenho a certeza que foste ao cabeleireiro tratar do cabelo e
das unhas, maquilhares-te e pores-te bonita como fizeste durante toda a vida
enquanto o pai foi vivo. Não me lembro, jamais, de uma tarde em que não aguardasses
por ele, bonita, produzida, «arranjada» como dizias. E assim foste. Arranjada,
ter com ele. Porque é que devia ser diferente agora?
Eu cá fico a tentar a veracidade daquela máxima que diz que
um homem não chora. Mas sabes? Uma vez por outra, vem uma lágrima por ali
abaixo, sem pedir licença, como esta manhã, quando voei para o hospital tentando
apanhar-te ainda com vida.
Fica também o legado sem preço que nos deixaste, tu e o pai.
Porque esse, por muito que aconteça, ninguém no-lo tira. E a ti e ao pai o
devemos.
Descansa em paz, mãezinha (lembras-te que só aos meus cinquenta
anos deixei de te chamar mãezinha?)
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Etiquetas: intimista
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