quarta-feira, julho 16, 2014

Pronto,mãe. Partiste


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Pronto, mãe. Partiste. Serena e bonita, com os filhos todos a mimar-te até aos últimos momentos.

Até há poucas semanas atrás, dizias que um dia destes ias ter com o pai que estava à tua espera. Falavas com a grandiloquência da tua simplicidade e com tanta sinceridade como quando dizias que não eras capaz de terminar uma refeição sem sobremesa. Pois, lá foste tu, mãe. Por isso escolhi esta foto, de resto a foto que fizeste questão de me oferecer como prenda do meu aniversário, há poucos dias atrás, e porque nada, como ela, ilustra o desejo que ias manifestando nos últimos tempos.

Tenho a certeza que foste ao cabeleireiro tratar do cabelo e das unhas, maquilhares-te e pores-te bonita como fizeste durante toda a vida enquanto o pai foi vivo. Não me lembro, jamais, de uma tarde em que não aguardasses por ele, bonita, produzida, «arranjada» como dizias. E assim foste. Arranjada, ter com ele. Porque é que devia ser diferente agora?

Eu cá fico a tentar a veracidade daquela máxima que diz que um homem não chora. Mas sabes? Uma vez por outra, vem uma lágrima por ali abaixo, sem pedir licença, como esta manhã, quando voei para o hospital tentando apanhar-te ainda com vida.

Fica também o legado sem preço que nos deixaste, tu e o pai. Porque esse, por muito que aconteça, ninguém no-lo tira. E a ti e ao pai o devemos.

Descansa em paz, mãezinha (lembras-te que só aos meus cinquenta anos deixei de te chamar mãezinha?)

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