quarta-feira, junho 06, 2007

Afinal não se sabe bem se a ministra de educação cometeu homicídio, mas ainda há esperança que deve ter andado por lá perto...




Foto, com a devida vénia, do We Have Kaos in the Garden

[1796]

Gerou-se por aí a história sinistra de uma professora que foi assassinada pela ministra de educação. Pois, como? Simples. A professora em questão estava de atestado médico porque sofria de leucemia e Maria de Lurdes Rodrigues ordenou que ela fosse trabalhar 31 dias, em resultado do que a infeliz professora, de 63 anos, morreu.

À partida, a ligeireza do enredo aconselhava a que mantivéssemos um pé atrás. Mas não foi isso que aconteceu. Muitos blogues embarcaram na história e solidarizaram-se naturalmente, com a defunta, ao mesmo tempo que um grupo de blogues mais activos e que se têm notabilizado por uma forte componente corporativa numa luta sem tréguas à ministra, fizeram posts atrás de posts, relatando o assassinato da professora e exprobrando a acção e o carácter da ministra. Expressões e trechos como assassina, criminosa, homicídio (in)voluntário, "executada" por acto administrativo, vérmina, escória humana, que sejas Lurdes maldita e conduzida às penas mais dolorosas que nem Dante ousou prever no seu inferno, homicida povoaram a blogoesfera, num dos mais característicos exemplos de boato organizado. A cereja em cima do bolo foi a composição fotográfica que aparece lá em cima, com a ministra entretida a enterrar professoras com leucemia, que ela acabou de executar.

Acontece que nestas coisas de boatos nem sempre as coisas correm como se pensa e/ou se deseja e qualquer areia na engrenagem fez com que um dos bloggers do
Braganzza (que entretanto, de boa-fé se solidarizara com outros blogues) exigisse publicamente explicações e evidência que sustentasse a história do "homicídio", sob pena de se demarcar do festim.

Nada disto seria muito grave, no fundo é a blogoesfera no seu pior e quem cá anda já há cerca de três anos sabe das panelas com que se fazem alguns cozidos. O que acho verdadeiramente grave é que pelo meio dos “implicados” no guião,
há professores. Alguns deles, aparentemente mestres na manipulação (veja-se hoje, aqui, e noutro registo, uma foto com cerca de… 500 pessoas, talvez ???, e um título de ajuntamento de 100.000 pessoas à espera da reunião do G8, sem violência, sem violência, lê-se, para que se saiba que a mais que provável violência que vai existir amanhã será sempre por culpa da brutalidade policial ou, ainda, aqui, “pegando”numa notícia do Avante sobre a adesão de 1.400.000 trabalhadores à greve geral, seguida por mais fontes de informação – recortes de imprensa, diz a blogger, e um punhado de notícias que têm a ver com tudo menos com o número de adesões à greve, tudo isto em tons de capital letter e vermelhos gritantes, de papalvos), o que me leva a pensar na reserva desejável na assunção de comportamentos públicos, sempre que sujeitos ao escrutínio de crianças e adolescentes.

O
Rodrigo Adão da Fonseca, ilustre blogger portuense do Blue Lounge Café, fez uma vez, há cerca de um ano, um post brilhante sobre um outro exemplo típico de manipulação corporativista, espelhada no SaúdeSA. E recordo-me dos métodos utilizados no SaúdeSA, sobretudo quando os vejo agora vertidos, à vírgula, no Sinistra Ministra.

A blogoesfera é uma tribuna livre de opinião, disse-me este
prezado confrade, na forma mais ou menos dissimulada de um ralhete público. Ainda que feérico. É evidente que concordo com ele, a questão é, apenas, tratar-se de professores, como aliás já aqui o referi. E não se caia na tentação de se dizer que estas linhas relevam, quiçá, de uma saudade dissimulada de censura. Seria o recurso fácil a lugares comuns sem qualquer valor para debate. O que se passa é que não consigo dissociar a imagem de um adolescente, provavelmente aluno de algum destes professores dos blogues a que me referi, a ler a história do homicídio de Cacia. Como se pode esperar que este adolescente venha a gerar qualquer tipo de respeito pelo seu professor, em vez do espírito de guerrilha que lhe começa a ser instilado ainda ele não conhece bem as regras da ortografia?

E, depois, há a questão da seriedade. No fundo é isso, uma questão de seriedade. Que é um assunto tão sério como a liberdade.


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8 Comments:

At 6:15 da tarde, Blogger LeonorBarros disse...

Esta questão da educação é particularmente sensível para mim, porque sou professora. Na verdade, nunca embarquei em campanhas contra a ministra da Educação, fiquei suficientemente esclarecida da sua fraqueza quando perante o Parlamento só lhe faltou chorar e foi incapaz de responder porque se repetiram os exames de Química, pergunta que até hoje ficou por responder. O que me incomoda verdadeiramente neste novo estatuto da carreira docente são as questões financeiras que o moveram e que nada têm a ver com a melhoria da qualidade de ensino em Portugal. Neste momento em que tive de andar a somar pontos para um concurso, sem ter sido avaliada a qualidade do que fiz, sinto-me desmotivada, quiçá injustiçada, mas ergo a cabeça e trabalho com o empenho e dedicação de sempre.
Cumprimentos

 
At 6:47 da tarde, Blogger Leonor disse...

E porque o meu comentário foi mais um desabafo do que um comentário ao post, voltei para dizer que assim foi, ou seja se alguém, professor ou não, tem leucemia, sem possibilidade de cura, como se provou, e tem de trabalhar na mesma e lhe é recusado o direito à reforma antecipada, a atitude da Caixa Geral de Aposentações é no mínimo desumana. Todos temos o direito de morrer em paz.

 
At 6:48 da tarde, Blogger Leonor disse...

Leonor Barros = papalagui
Enganei-me no log in ;-)

 
At 7:43 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Leonor/Papalagui

Entendi bem o desabafo e a sua posição.
Penso que em parte alguma do meu post questiono professores. Por outro lado, quem me lê sabe que sou frequentemente (muito) crítico da falta de rigor dos nossos serviços. Talvez mesmo por via dessa falta de rigor ainda não tenha entendido bem o que realmente se passou com a vossa colega de Cacia. E bastaria isso para não embarcar (como já aconteceu muitas vezes a propósito de outros temas) em campanhas blogosesféricas, não conhecendo eu os pormenores. Que a professora morreu e que sofria de leucemia, sei. Para além desses factos há um amontoado de suposições, informações e insultos com que não posso concordar. E isso não tem nada a ver com eu apreciar a ministra ou não. É irrelevante. Apenas referi a questão porque um blog, no caso o Braganzza Mothers, questionou ele próprio a história, porque gerou dúvidas sobre a verdade dos pormenores da notícia. A partir de aí limitei-me a fazer uma observação sobre os métodos seguidos por alguns blogs. Blogs que, aliás, referi e linquei. Nada mais que isso.

Cumprimentos

 
At 7:45 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Papalagui
Declaração de interesse:
O meu comentário de hoje no seu post do GR foi escrito antes do seu no Espumadamente o que aliás se pode verificar pela hora :))))) Pelo que é verdadeiramente genuino :)

 
At 11:41 da tarde, Blogger LeonorBarros disse...

Fiquei muito lisonjeada com o seu comentário sobre a crónica da mercearia, tenho algumas escritas já. Sem bem que é genuino, longe de mim pensar outra coisa de si.

Quanto ao resto, é só mesmo uma troca de impressões, porque a maior parte das vezes tenho cuidado com as campanhas blogosféricas e com o que leio nos jornais ou revistas. Para quem está dentro da profissão é muito fácil detectar as inverdades e a especulação. Mesmo correndo o risco de ser crucificada por alguns colegas de profissão, a campanha contra a Ministra parece-me disparatada, os problemas da profissão, esses sim, são os mais importantes, já existiam antes dela e continuarão depois.
Cumprimentos :-)

 
At 4:53 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Na mouche. E sou professor!

 
At 9:56 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Imaginação prodigiosa, os meus parabéns!

 

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