Medina Carreira
Medina Carreira tinha, para mim, um valor inestimável pelas
razões sucintas que passo a citar:
1 – Falava um português sem arrebiques e que, naturalmente,
toda a gente percebia (uma excepção para a Judite de Sousa que, frequentemente, saltava
com perguntas totalmente fora do contexto e sempre com o pé a fugir-lhe para
para a chinelinha situacionista);
2 – Eu não precisava de ser fiscalista, economista, jurista
ou financeiro para perceber com fluidez o que ele dizia. De resto sempre
apoiado com quadros e gráficos que nunca vi ninguém refutar;
3 – Manifestava uma admirável facilidade em chamar as coisas
e as pessoas pelos nomes. Nunca se preocupou em escamotear factos ou
personalidades, sempre que achava que devia ser factual.
4 – Sabia projectar, como ninguém, a trágica situação em que
vivemos por força de um punhado de gente
que actuou de forma reconhecidamente dolosa (há poucos presos ou arguidos), por pura ignorância, outros ou, ainda, por uma atitude servil, uma grande quantidade
deles. Não me ocorre que algum destes exemplares citados alguma vez se
oferecesse para debate, em face daquilo de que eram directamente acusados.
Chamavam-lhe pessimista. Com o detalhe de alguns lhe chamarem pessimista e
catastrofista, esboçando um sorriso idiota com uma pretensa superioridade de
condescendência (e calcula-se com facilidade de quem estou a falar, mesmo que o
nosso alegado primeiro-ministro diga que herdou a sua amizade por via do pai –
e vá lá saber-se o que é que ele pretende dizer);
5 – Medina Carreira faleceu. Não sabia que tinha cancro.
Jamais me passou isso pela cabeça, apesar de, por vezes, ele me parecer cansado
e com algum sacrifício físico. Ficamos a dever-lhe o alerta para uma situação
de emergência em que todos vivemos. Oxalá a palavra dele não tenha sido
totalmente em vão.
NOTA: Nunca fui de panegíricos serôdios ou a propósito do
falecimento de alguém. Com Medina Carreira, faço-o. Porque tinha uma enorme admiração
por este homem que aos oitenta e cinco anos mantinha a garra e a presença para abordar os problemas da forma como o fazia.
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Etiquetas: coisas sérias, homens que deixam saudades, Medina Carreira
2 Comments:
Um texto com a justiça do elogio que Medina Carreira merece.
O ponto um ,subscrevo também inteiramente. Era uma enorme dificuldade aturar a pretenciosa e inconveniente mulherzinha, sempre mas sempre a tentar evidenciar-se.
Melhores Cumprimentos
C. Oliveira
Correcção; pretensiosa.....erro de palmatória acima , pelo cánones que aprendi.
Hoje seria fácilmente aceite no sistema de ensino....
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