terça-feira, julho 04, 2017

Medina Carreira



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Medina Carreira tinha, para mim, um valor inestimável pelas razões sucintas que passo a citar:

1 – Falava um português sem arrebiques e que, naturalmente, toda a gente percebia (uma excepção para a Judite de Sousa que, frequentemente, saltava com perguntas totalmente fora do contexto e sempre com o pé a fugir-lhe para para a chinelinha situacionista);

2 – Eu não precisava de ser fiscalista, economista, jurista ou financeiro para perceber com fluidez o que ele dizia. De resto sempre apoiado com quadros e gráficos que nunca vi ninguém refutar;

3 – Manifestava uma admirável facilidade em chamar as coisas e as pessoas pelos nomes. Nunca se preocupou em escamotear factos ou personalidades, sempre que achava que devia ser factual.

4 – Sabia projectar, como ninguém, a trágica situação em que vivemos por força de um  punhado de gente que actuou de forma reconhecidamente dolosa (há poucos presos ou arguidos), por pura ignorância, outros ou, ainda, por uma atitude servil, uma grande quantidade deles. Não me ocorre que algum destes exemplares citados alguma vez se oferecesse para debate, em face daquilo de que eram directamente acusados. Chamavam-lhe pessimista. Com o detalhe de alguns lhe chamarem pessimista e catastrofista, esboçando um sorriso idiota com uma pretensa superioridade de condescendência (e calcula-se com facilidade de quem estou a falar, mesmo que o nosso alegado primeiro-ministro diga que herdou a sua amizade por via do pai – e vá lá saber-se o que é que ele pretende dizer);

5 – Medina Carreira faleceu. Não sabia que tinha cancro. Jamais me passou isso pela cabeça, apesar de, por vezes, ele me parecer cansado e com algum sacrifício físico. Ficamos a dever-lhe o alerta para uma situação de emergência em que todos vivemos. Oxalá a palavra dele não tenha sido totalmente em vão.

NOTA: Nunca fui de panegíricos serôdios ou a propósito do falecimento de alguém. Com Medina Carreira, faço-o. Porque tinha uma enorme admiração por este homem que aos oitenta e cinco anos mantinha a garra e a presença para abordar os problemas da forma como o fazia.


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2 Comments:

At 3:49 da tarde, Blogger Carlos Oliveira disse...

Um texto com a justiça do elogio que Medina Carreira merece.
O ponto um ,subscrevo também inteiramente. Era uma enorme dificuldade aturar a pretenciosa e inconveniente mulherzinha, sempre mas sempre a tentar evidenciar-se.
Melhores Cumprimentos
C. Oliveira

 
At 3:57 da tarde, Blogger Carlos Oliveira disse...

Correcção; pretensiosa.....erro de palmatória acima , pelo cánones que aprendi.
Hoje seria fácilmente aceite no sistema de ensino....

 

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