terça-feira, janeiro 03, 2017

Le ministre qui rit




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Segue a sua marcha impante a dinâmica criada por especialistas do género de que a estabilidade desejada e os consensos não são possíveis pela crispação existente entre o governo e o maior Partido de oposição. E que essa crispação se deve (quem mais?) a Passos Coelho pela sua dificuldade em aceitar a derrota parlamentar apesar de ter ganho as eleições. Essa dinâmica é nutrida por gente que sabe que não é assim, gente que não percebe bem o que se passa mas que acha que deve ser assim e por gente (muita) que já acredita piamente na peregrina ideia de que a crispação se deve inteiramente ao PSD em geral e a Passos Coelho em particular.

Esta é uma ideia falsa como Judas (acho que mais falsa que Judas) e as pessoas têm obrigação de se lembrar que a tal crispação se deve inteirinha a António Costa, na sua desbragada corrida para o Poder, pelas repetidas acções que assumiu para abortar cerce qualquer possibilidade de consenso com o PSD, por saber que isso significaria que Passos Coelho seria, de novo, primeiro-ministro e ele não. Costa não só não suportou a ideia como cegou de fúria pela consecutiva maré de “poucochinhos” que ia coleccionando desde o afastamento de A. J. Seguro e que culminou com a, para ele, vergonhosa derrota nas urnas.

Os detalhes são longos e vários. Há certamente registo das continuadas atitudes de Costa nesse processo, onde ele misturava esperteza-saloia com mentira, chico-espertismo e inúmeras demonstrações de uma forma chocarreira, malcriada e pouco digna e desejável na figura institucional de um primeiro-ministro.

Quando vejo agora a institucionalização da crispação como sendo devida à casmurrice de Passos Coelho sinto um profundo mal-estar. Talvez não tanto pela referida crispação (isto um dia acaba mesmo e o próprio PS terá gente decente para tomar conta do barco socialista) mas mais como foi possível que tanta gente (Marcelo não escapa ao grupo), involuntária ou conscientemente, exprobe Passos Coelho por um comportamento de que ele não tem culpa nenhuma.


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