segunda-feira, janeiro 02, 2017

Pior que o três F's



Como é que eu posso levar isto a sério?

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Não me sai da cabeça o espectáculo degradante oferecido pelas televisões em geral sobre a alegria dos portugueses no fim do ano. Quais meninos a quem tivessem dado um arco e balão. Não há nada de mal em dar arcos e balões a crianças, mas que a comunicação social e uma cirúrgica e inteligente estratégia da trupe que nos comanda deveriam ter um pequeno estremeção de remorso em ajudar a difundir a vaga de felicidade em que, como por milagre, os portugueses chapinham, sobretudo porque são cidadãos já sem idade para arco e balão.

Não me ocorre alguma vez ter visto uma tão cuidada e detalhada operação de perguntas em directo onde as opiniões eram, na totalidade, de gente que afirmava, sem rebuço e com toda a convicção que a alma lusitana lhes confere, que este ano a alegria reinava como nunca antes e que isto aos portugueses só fazia bem, depois do mau bocado que passaram (entenda-se, o Passos Coelho era um “fassista” perigoso que acordava todas as manhãs a pensar como havia de roubar mais portugueses). Chegava a ser patético. Ouvi inclusivamente e por várias vezes, afirmar que sim, realmente tinham consciência que atravessávamos uma situação difícil mas que parecia que as coisas agora, finalmente, estavam a mudar.

Esta é uma situação estranha, mas de uma torpeza clara. Não se espera nem deseja gente pessimista a espalhar diabos ou catástrofes, como apregoa o inenarrável Costa, mas igualmente se rejeita este falso orgasmo por uma situação que os mais atentos e conhecedores sabem que dificilmente chegará a bom porto. A dívida externa, o mero facto de andarmos a ser alimentados (repito, alimentados) com dinheiro emprestado (coisa factualmente divulgada e que não vejo desmentida) e, sobretudo, um governo que nem estimula o crescimento nem deixa estimular, deveriam chegar para que quem manda tivesse algum recato em manter os portugueses nesta maré de bem-estar através de acções como atrás referi.

Não sou economista, não sou político, não sou jornalista. Mas, em casos extremos, nem preciso de sê-lo. Basta perceber o que se passa. E quando, cereja no bolo, oiço um primeiro-ministro estranho e de sorriso permanente e alarve dizer num programa de televisão para não nos preocuparmos porque ele ainda há pouco andou a pagar dívidas do Fontes Pereira de Melo, é caso para me arrepiar. Não pelo pagamento de dívidas com mais de cem anos, mas pela risada idiota de um primeiro-ministro que o refere com o gáudio próprio do puto que ouviu a avó dar um pum e se desmancha a rir.

Costa e apaniguados (um ressurgimento trágico de tralha socrática) deviam ser responsabilizados por esta fraude em que envolveram os portugueses. E estes… fazer o quê? como se diz no Brasil…que esperem por alguém que um dia tenha a seriedade suficiente e lhes explique a realidade.


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