Pior que o três F's
Como é que eu posso levar isto a sério?
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Não me sai da cabeça o espectáculo degradante oferecido
pelas televisões em geral sobre a alegria dos portugueses no fim do ano. Quais
meninos a quem tivessem dado um arco e balão. Não há nada de mal em dar arcos e
balões a crianças, mas que a comunicação social e uma cirúrgica e inteligente
estratégia da trupe que nos comanda deveriam ter um pequeno estremeção de remorso
em ajudar a difundir a vaga de felicidade em que, como por milagre, os
portugueses chapinham, sobretudo porque são cidadãos já sem idade para arco e balão.
Não me ocorre alguma vez ter visto uma tão cuidada e
detalhada operação de perguntas em directo onde as opiniões eram, na
totalidade, de gente que afirmava, sem rebuço e com toda a convicção que a alma
lusitana lhes confere, que este ano a alegria reinava como nunca antes e que isto
aos portugueses só fazia bem, depois do mau bocado que passaram (entenda-se, o
Passos Coelho era um “fassista” perigoso que acordava todas as manhãs a pensar
como havia de roubar mais portugueses). Chegava a ser patético. Ouvi
inclusivamente e por várias vezes, afirmar que sim, realmente tinham
consciência que atravessávamos uma situação difícil mas que parecia que as coisas
agora, finalmente, estavam a mudar.
Esta é uma situação estranha, mas de uma torpeza clara. Não
se espera nem deseja gente pessimista a espalhar diabos ou catástrofes, como
apregoa o inenarrável Costa, mas igualmente se rejeita este falso orgasmo por
uma situação que os mais atentos e conhecedores sabem que dificilmente chegará a
bom porto. A dívida externa, o mero facto de andarmos a ser alimentados
(repito, alimentados) com dinheiro emprestado (coisa factualmente divulgada e
que não vejo desmentida) e, sobretudo, um governo que nem estimula o crescimento
nem deixa estimular, deveriam chegar para que quem manda tivesse algum recato em
manter os portugueses nesta maré de bem-estar através de acções como atrás
referi.
Não sou economista, não sou político, não sou jornalista. Mas, em casos extremos, nem preciso de sê-lo. Basta perceber o que se passa. E
quando, cereja no bolo, oiço um primeiro-ministro estranho e de sorriso
permanente e alarve dizer num programa de televisão para não nos preocuparmos
porque ele ainda há pouco andou a pagar dívidas do Fontes Pereira de Melo, é caso
para me arrepiar. Não pelo pagamento de dívidas com mais de cem anos, mas pela
risada idiota de um primeiro-ministro que o refere com o gáudio próprio do puto
que ouviu a avó dar um pum e se desmancha a rir.
Costa e apaniguados (um ressurgimento trágico de tralha
socrática) deviam ser responsabilizados por esta fraude em que envolveram os portugueses.
E estes… fazer o quê? como se diz no Brasil…que esperem por alguém que um dia
tenha a seriedade suficiente e lhes explique a realidade.
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Etiquetas: aí estão eles outra vez, Ai Portugal, povo distraído, tralha socrática
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