segunda-feira, janeiro 02, 2017

Mas sabemos que o sol está sempre lá



Foto de hoje às 14:30. Clicar para ver melhor.
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E o Guincho hoje estava assim. Almoço na Aldeia de Juzo e uma tempestade que convidava a um desvio pela Malveira da Serra e Guincho até casa.
Não era bem uma tempestade. Era um dia cinzento, onde não era possível descortinar a linha do horizonte e um mar zangado, revolto e a desfazer-se em espuma por cima daquelas rochas milenares no meio do areal. Espuma que certamente carreava alguns desgostos, que os mares também têm disso. E como os oceanos não tomam comprimidos têm que bolçar a azia nos areais.
Dia feio. Certamente com sinais, mensagens, símbolos, números e outros artefactos mais ou menos esotéricos que as pessoas gostam de associar a este tipo de fenómenos. Parei o carro e, surpresa, não achei nada feio o cenário que desfrutava. Tive até a impressão que percebia o mar, talvez porque durante tantos anos brinquei com ele e sabia que depois do cinzento do céu e da espuma carregada de azedumes, chega sempre uma manhã em que o mar retoma o azul que é só dele, o céu se veste de azul que é só dele também e num glorioso banho de sol vai ser possível distinguir a linha do horizonte. Lá longe, onde a manhã vai crescer, aquecer e levar vida e conforto a latitudes longínquas. E a vida continuará. Muito azul, serena e com maravilhosas vibrações de sol. E essas manhãs não precisam de cantar, sobretudo porque se chega a uma altura na vida em que sabemos as letras e as músicas todas e basta aguardarmos o natural entrosamento com a vida que a natureza nos dá e fruir tanto de bom que, aqui e ali, se esconde no cinzento e nas espumas, mas que inevitavelmente regressa numa manhã gloriosa.

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