A circulação de quadrados
A «Quadratura» de ontem foi um bom exemplo da surpreendente
bonomia com que se lida com a proverbial irresponsabilidade do Partido
Socialista. Com José Pacheco Pereira à cabeça, houve uma demonstração cabal de
que as actuais dificuldades que atravessamos não remetem para a habitual
incompetência, irresponsabilidade e sujeição aos caprichos, birras e ganância dos
seus líderes, no caso actual do inominável e sorridente Costa que vai continuando
a minar impunemente a credibilidade e seriedade que capitalizámos durante os últimos
anos, manejando os seus títeres a bel-prazer.
Foi clara a intenção, mormente, repito, no que se refere a Pacheco
Pereira, de remeter para a falta de sentido de Estado dos Partidos da Extrema Esquerda
que, numa altura de crise devida á «volatilidade da situação internacional»,
deveriam abster-se de assumirem uma atitude reivindicativa fazendo exigências
por tudo e por nada. Por outras palavras, a culpa não é de Costa e dos seus
sequazes, mas do Bloco e do PC que, imagine-se, estão muito reivindicativos e
não o deviam estar. Não fosse isso e o PS prosseguiria, com êxito, a sua política
de páginas viradas e do tempo novo com o homem novo.
Isto é uma falácia e fica mal a Pacheco Pereira que, uma vez
mais e como habitualmente, continua a demonstrar um ressabiamento feroz contra
o PAF (nota-se a entoação de desprezo com que ele entoa a sigla PppAaaf) e uma
desculpabilização permanente dos desvarios (os conhecidos «desvairos» de Marques
Lopes) de A. Costa que está em palpos de aranha por causa dos reivindicativos
Bloco e PCP.
Pacheco está a ser desonesto
(com Jorge Coelho a bater palmas) porque Costa deveria saber bem ao que ia. Depois
de dar um uso aos votos dos seus eleitores de todo inesperado, não hesitou em
se ligar a grupos partidários que têm uma noção de democracia igual à que eu
tenho do papel do apêndice no trânsito intestinal. Ou seja, nem sei, nem me
interessa.
Costa é, pois, culpado. Ele sabia bem ao que ia. Mas
resfolegou com o elogio perene de que é um bom negociador, condição que a Comunicação
Social não se cansa de enaltecer. E achou que aquilo era trigo limpo farinha
amparo – Esquerda no bolso e Comissão Europeia posta em sentido. O resto,
défice, pacto de estabilidade, dívida, compromissos assumidos (palavra dada, palavra
honrada) eram pormenores de lana caprina que ele resolveria com o mesmo à
vontade com que pôs um burro a competir com um Ferrari, hoje por hoje a sua
mais notável façanha enquanto político.
O PC e o Bloco fazem o que devem. Reivindicam e reivindicam
bem. Costa que se amanhe. E nós continuaremos a fazer de mexilhão, mas a culpa
é de quem dá os votos a esta camarilha de irresponsáveis, ciclicamente empenhados
em nos meter em graves dificuldades, desta vez com o insuportável sorriso perene
de um primeiro-ministro que acha que rir faz parte do argumentário de um político
de primeira apanha.
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Etiquetas: António Costa., Pacheco Pereira, Quadratura do Círculo
1 Comments:
Totalmente de acordo. Abraço
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