quinta-feira, janeiro 28, 2016

Sarar as feridas?



[5364]

Nunca apreciei o estilo de Sampaio. Sempre o tive por um homem culto e íntegro (lamento ter de enaltecer cultura e a integridade como qualidades de referência no meu país, mas as coisas são como são) mas tenho um trauma de juventude, qual seja o de ter ouvido uma longa conversa no bar do Hotel Florida entre ele e outros socialistas e que na altura me pareceram fortemente eivadas de utopia. Mas eu era um jovem e na verdade, que sabia eu de política progressista? Com o tempo fui podendo fazer uma desejável adequação do estilo e da substância daquele tipo de verve socialista e alguns anos depois apercebi-me que a utopia transvasava a estupidez para se tornar trágica.

Esta nota para dizer que não gosto da «proa» de Sampaio. E, no meu entender, o seu consulado na Presidência reflectiu exactamente a opinião que eu fui formando do homem, à medida que fui fazendo a tal adequação de estilos e conteúdos da célebre conversa que eu ouvira no Florida, seguramente há quarenta anos atrás.

Mas hoje, Sampaio, «acha» que Marcelo pode ser um bom estadista. Para além do paternalismo da asserção, o que noto é esta atitude corrente e generalizada, consubstanciada na ideia de que o importante agora é corrigir este clima de crispação e da necessidade de sarar feridas. Repare-se:

Terá esta omnisciente classe consciência de que as feridas foram eles que as abriram? Lembrar-se-ão de que foram os socialistas que ciclicamente nos remeteram para uma situação de indigência e que, não obstante, insistem em manobras diletantes e irresponsáveis que, como agora se verifica, nos levam à ruína de novo e nos colocam num conceito ridículo e embaraçoso perante o concerto europeu?

Costa e sequazes são responsáveis pela inevitável tragédia que se perfila, de novo, no horizonte de curto a médio prazo. Todavia, à semelhança da opinião de Jorge Sampaio, é recorrente ouvir a asserção de que é preciso sarar feridas. Não oiço é nada sobre quem insiste em nos infligir estas feridas. Nem de como o evitar.



*
*

Etiquetas: ,