A culpa é dos acontecimentos
Uma parte considerável do território americano foi atingida
por uma catástrofe (parece ter sido o maior furacão de sempre) que causou
elevadas perdas materiais e perda de vidas humanas. O Presidente fez uma curta
declaração onde assegurou aos cidadãos um plano federal de ajuda aos atingidos
e enalteceu o facto de ser na desgraça e na contingência que os cidadãos
americanos se sentem unidos e proud of it.
Em Portugal, uma catástrofe semelhante mereceria uma
declaração do nosso sorridente primeiro-ministro (ladeado pela ministra
Constança fungando e de olhos tristes) explicando os porquês da situação a que
não seriam estranhos um elevado número de malfeitorias e desmazelos do governo
anterior, as alterações climáticas que os americanos se recusam a subscrever em
Paris, as injustiças sociais (apesar de tudo minoradas pelo aumento de
rendimento das famílias a que ele, claramente, não era alheio), as dificuldades
na resposta à catástrofe pela infernização a que o governo PSD/CDS submeteu as
famílias, os pensionistas e os reformados, ao descalabro de uma oposição sem
liderança, sem propostas, respostas ou planos e outras singularidades muito
próximas daquilo que Maduro diria aos infelizes venezuelanos, numa situação
semelhante. Tudo acompanhado de um sorriso e de uma catadupa de “orabamoslaber”
ou, até, de uma vaca de brinquedo com asas e Costa aos pulos num palco
improvisado, com o pessoal a bater palmas.
Após o que teríamos Catarina e Jerónimo a dizer mais ou
menos as mesmas alarvidades - ela com a tacha razoavelmente arreganhada e ele
com o mento reflectindo as heroicidades do passado e as certezas venturosas dos
amanhãs. No fim, o habitual cotejo de comentários políticos, todos eles dizendo
a mesma coisa e, assim, não cotejando coisa nenhuma e um remate obsceno dum “Eixo
do Mal”, de uma “Quadratura” e de uma Constança Cunha e Sá à maneira.
O pano cairia com declarações alarves mais ou menos ao estilo
de que "no limite" não teria havido furacão (sem acusação e sem confissão), na
pronta resposta do governo, na abertura de seis inquéritos e nas culpas de um
punhado de instituições. Para além das de Passos Coelho, naturalmente.
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Etiquetas: Ai Portugal
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