sexta-feira, agosto 26, 2016

Gente com opinião tem sempre razão

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Torna-se-me cada vez mais espinhoso perceber os desígnios da nossa comunicação social. Oscilo ente uma campanha especialmente gizada para manter os níveis do politicamente correcto em boa medida ou, simplesmente, começo a convencer-me que os seus agentes são maioritária e firmemente estúpidos.

Estou a trabalhar e oiço uma torrente de comentários sobre o tal burkini. Abstenho-me de fazer as minhas próprias considerações sobre a questão, tanto mais que até há pouco tempo atrás ninguém falava no assunto (porque o assunto não existia) e, sobretudo, porque me impressiona a dificuldade ou negação de muitas pessoas em perceber que o tal do burkini, mais do que o exercício de uma liberdade que as burkineiras não têm na terra delas, constitui claramente uma ferramenta provocatória. Por isso, repito, não vou entrar em considerandos sobre um assunto idiota. E que as pessoas se lembrem de que tanto direito têm as muçulmanas de se vestirem como quiserem (ou os homens as obrigarem), na terra delas, como os franceses têm o direito de proibir o que lhes apetecer na terra deles.

Voltando à TV, estou a trabalhar e tenho em ruído de fundo, repito, uma torrente de gente indignada com os franceses e produzindo os mais disparatados argumentos sobre a matéria, desde a liberdade das mulheres ao exemplo das freiras, passando pelo respeito dos símbolos religiosos e tradicionais de cada qual. Um coro de indignados, curiosamente mais mulheres que homens, de gente que provavelmente há pouco tempo atrás berrava contra os cruxifixos nas escolas. À função colaborava a apresentadora da TV, quiçá mais indignada que os ouvintes, ao mesmo tempo que anunciava a opinião de um “especialista” na matéria, nos intervalos dos telefonemas.

E assim vai o mundo (o português). Uma plêiade de gente justa, que preza a liberdade e com um espírito solidário que lhe vem das entranhas. E, ainda, com uma notável clarividência sobre os mais delicados e momentosos problemas do planeta. Foi assim com Timor, é com Angola, com a invasão do Iraque, a cimeira dos Açores e com Guantánamo, entre outros. Que não usem a mesma clarividência para tratarem dos seus próprios problemas e ratifiquem coisas estranhas como uma geringonça governante já são outros quinhentos.


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