Deu-me uma saudade fininha
Faz hoje sensivelmente um mês, por esta hora, e estava eu
assim. No mar alto, com o frio do Julho do Índico a roçar-me a face, o cabelo
desgrenhado (ele já é pouco, mas ainda desgrenha…) e aquele gosto salgado que
nos impregna não mais que cinco minutos depois de nos fazermos ao mar.
Na ponta da linha (uma condescendente 0,6), uma rapala prateada
e, preso na rapala, um peixe-serra que me veio matar a saudade (pelo menos
duas *) e esculpir no rosto o sorriso que me acompanhou para o resto do dia.
Hoje estou sentado a um computador a fazer o costume e a
pensar que no fundo não há forma de viver sem o costume – única via de o podermos
quebrar de vez em quando.
Como nota final, o facto (meio selvático) de que à noite comi
este serra. Especificamente este, porque apanhámos um total de seis peixes. Se
eu fosse um facebookiano de causas diria que soltei o peixe e marcava o post com
um libelo acusatório contra todos os pescadores. Mas se o fizesse, perderia o
conforto da companhia de um grupo de amigos ao jantar, quando a mulher de um
deles simpaticamente fez questão de mandar cozinhar aquele peixe. Coisas que
sabem bem e confortam igualmente a alma e o palato.
E depois desta variação, vou continuar a trabalhar, enquanto
oiço as notícias em mode de música de fundo, em que já ouvi qualquer coisa como
um grupo da Guiné Bissau que quer voltar a instituir a excisão feminina no
país. Questionado pelo repórter sobre como é que ele se sentiria se lhe
cortassem o órgão genital, o homem (?) disse que não era comparável porque às
mulheres corta-se só um bocadinho pequenino (ipsis verbis).
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Etiquetas: Moçambique
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