Garotos de programa
Havia uma expressão oriunda do Brasil mas mais ou menos consensual
por onde quer que se falasse português, as garotas de programa. As garotas
deveriam ter as formas sinuosas das caricaturas de Vilhena e os programas
dependeriam da capacidade financeira de cada um, desde o simples cineminha com
direito à mão no joelho ou, mesmo, na coxa, até ao jantar de menu sofisticado e
recinto de dança. Qualquer dos programas acabava, naturalmente, num cenário de
alcova. Hoje, com os ajustes da época, a coisa mantém-se mais ou menos na
mesma, sendo que a qualidade do programa (e da garota) continua a depender do plafonamento
(para usar uma expressão em uso) do cartão de crédito.
Mas há uma variante de tomo. Eis que os garotos de programa
impõem igualmente a sua presença. Não têm decotes, saias justas ou
salto-agulha, usam fatos, sapatos e gravatas de marca e, ao contrário, das
garotas de programa, não cuidam da discrição. Pelo contrário, falam que não se
calam e com o mento grave, severo e inspirador da seriedade dos seus intentos aproveitam
todo o microfone, gravador ou celular que lhes metem à frente para falar dos
seus programas. Ele é pensões, salários, medidas mirabolantes sobre o progresso
e bem-estar e tudo faz parte dos seus programas. Por isso são, com propriedade,
os garotos de programa. Saem é mais caro que as tais garotas. Não querem
dinheiro, nem lagosta, bailarico ou mão no joelho numa sala escura de cinema.
Querem um papelinho a que, prosaicamente, dão o nome de voto. E, se tiverem
muitos, a coisa então fica-nos cara a valer. Locupletam-se com uma série
infinda de prebendas e nós, os que lhes damos os votos, continuamos tesos, «isso»… e mal pagos. Alguns deles vão presos
(poucos), outros não. Mas os garotos de programa, ciclicamente, continuam a
atacar. Como agora. É programas por todo o lado. E o dia da paga, do voto, está
a chegar.
Não posso deixar de registar que a garota de programa dá muito
mais gozo e, sobretudo, tem um capital de nobreza que os garotos de programa não
têm. Não escondem nada e todos sabemos ao que vamos (os programadores e os
programados). Já com os garotos…
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Etiquetas: campanha para legislativas, momento político
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