domingo, março 03, 2013

Grandolar 3

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Depois da manif e do futebol (uma arbitragem habitual de habilidade à xico-esperto marcando faltinhas de cada vez que um jogador do Sporting dava um pum…) pensei no mal que poderei ter feito a Deus para, pelo menos até aqui, ter levado a minha vida refém de um rancho de gente, mal formada uma, supinamente inteligente mas de má índole, outra. Em miúdo, circunstancialmente estudando em Coimbra, tive os meus primeiros contactos com a esquerda quando joguei râguebi na Académica. Havia, à altura, uma espécie de estudantes profissionais, entenda-se, não acabavam os cursos, chumbavam, mesmo percebendo-se que tinham capacidade e intelecto para os finalizar com uma perna às costas. A verdade é que chumbavam e iam eternizando a sua estadia na cidade universitária numa acção que só muito mais tarde entendi. Claramente, activistas. E lembro-me de uma vez um deles, a quem eu disse nos balneários do estádio, que um colega tinha ido à casa de banho, me ter dito que o cagar era um acto político. Perante a minha provável expressão de incompreensão, ele tratou de me explicar porque é que o cagar era um acto político, ao ponto de dez minutos depois de uma prelecção codiciosa eu achar que devíamos ir partir montras para a Ferreira Borges… e que nisso residia toda a lógica revolucionária do cagar como um acto político. Mais tarde, sofri as consequências de um grupo de gente, alguma bem-intencionada, romântica e cheia de fervor pelos amigos à esquina, gaivotas a voar e amanhãs canoros, outra claramente manipuladora, de má fé, ambiciosa ou patologicamente imbuída de ideologias que conduziram à morte de milhares de pessoas das colónias, e ao esbulho de muitos outros milhares. Pela minha parte, que fiquei do lado dos vivos, limitei-me a sentir obrigado a emigrar (nesta altura ainda não havia a SIC Notícias nem o Público para publicar imagens minhas a dizer que tinha acabado a licenciatura há três anos e que o Estado não me arranjava emprego. Dei corda aos sapatos e fui tratar da vida, enquanto Otelos, Rosas Coutinhos, Gonçalves e correlativos e derivados iam escaqueirando as colónias e o país, mesmo sabendo-se que a maioria das pessoas em Angola e Moçambique tinha consciência de que a independência era não só necessária, como desejável e justa. Passados todos estes anos, ainda tenho que aguentar firme os grandoleiros.

Não desarmam. Se os vampiros do venerado Zeca Afonso diziam que eles comem tudo e não deixam nada, esta rapaziada continua a grandolar porque ainda só comeu um bocadinho. E, não tenhamos ilusões, deixemo-los comer e depois vão ver se eles deixam alguma coisa. Vão por mim, que sei e que vi…
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