Grandolar 3
Depois da manif e do futebol (uma arbitragem habitual de
habilidade à xico-esperto marcando faltinhas de cada vez que um jogador do Sporting
dava um pum…) pensei no mal que poderei ter feito a Deus para, pelo menos até
aqui, ter levado a minha vida refém de um rancho de gente, mal formada uma,
supinamente inteligente mas de má índole, outra. Em miúdo, circunstancialmente
estudando em Coimbra, tive os meus primeiros contactos com a esquerda quando
joguei râguebi na Académica. Havia, à altura, uma espécie de estudantes
profissionais, entenda-se, não acabavam os cursos, chumbavam, mesmo percebendo-se
que tinham capacidade e intelecto para os finalizar com uma perna às costas. A
verdade é que chumbavam e iam eternizando a sua estadia na cidade universitária
numa acção que só muito mais tarde entendi. Claramente, activistas. E lembro-me
de uma vez um deles, a quem eu disse nos balneários do estádio, que um colega
tinha ido à casa de banho, me ter dito que o cagar era um acto político.
Perante a minha provável expressão de incompreensão, ele tratou de me explicar
porque é que o cagar era um acto político, ao ponto de dez minutos depois de
uma prelecção codiciosa eu achar que devíamos ir partir montras para a Ferreira
Borges… e que nisso residia toda a lógica revolucionária do cagar como um acto
político. Mais tarde, sofri as consequências de um grupo de gente, alguma bem-intencionada,
romântica e cheia de fervor pelos amigos à esquina, gaivotas a voar e amanhãs
canoros, outra claramente manipuladora, de má fé, ambiciosa ou patologicamente
imbuída de ideologias que conduziram à morte de milhares de pessoas das
colónias, e ao esbulho de muitos outros milhares. Pela minha parte, que fiquei
do lado dos vivos, limitei-me a sentir obrigado a emigrar (nesta altura ainda
não havia a SIC Notícias nem o Público para publicar imagens minhas a dizer que
tinha acabado a licenciatura há três anos e que o Estado não me arranjava
emprego. Dei corda aos sapatos e fui tratar da vida, enquanto Otelos, Rosas
Coutinhos, Gonçalves e correlativos e derivados iam escaqueirando as colónias e
o país, mesmo sabendo-se que a maioria das pessoas em Angola e Moçambique
tinha consciência de que a independência era não só necessária, como desejável
e justa. Passados todos estes anos, ainda tenho que aguentar firme os
grandoleiros.
Não desarmam. Se os vampiros do venerado Zeca Afonso diziam
que eles comem tudo e não deixam nada, esta rapaziada continua a grandolar
porque ainda só comeu um bocadinho. E, não tenhamos ilusões, deixemo-los comer
e depois vão ver se eles deixam alguma coisa. Vão por mim, que sei e que vi…
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Etiquetas: Ai Portugal, manifestação
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