O senhor Abel Dias
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Isto das greves actuais sempre me fez muita confusão. Mesmo entendendo a decorrência metodológica dos acontecimentos resultantes da Revolução Industrial e figuras mais ou menos iconográficas como J. Hoffa na sua permanente luta contra Roosevelt, a verdade é que me parece que o contexto actual se encontra claramente adulterado, tanto pelos beneficiários da luta sindical como pelos motivos usados para justificar o recurso à greve como, ainda, o facto extraordinário de que hoje, circunstancialmente, os prejudicados são sempre os utilizadores de serviços (utentes, na gíria corrente), muito mais do que os patrões. Mesmo porque na grande maioria dos casos os patrões são o patrão – o Estado, representado por gestores pagos a peso de ouro e para quem é indiferente o resultado anual da empresa.
Mas a questão é, ainda, outra. Não entendo como uma greve possa ser um direito constitucional e um trabalhador não fazer greve o não seja. Eu não tenho que concordar com as decisões ou os humores de sindicatos maioritariamente agregados a Partidos ou instituições com um forte pendor ideológico, normalmente a anos-luz de distância dos verdadeiros interesses dos trabalhadores, à luz de uma sociedade moderna, de desejável progresso e segurança social. Por isso me espanta que a rádio (TSF, quem mais?) dê a notícia que segundo o senhor Abel Dias (e eu juro que não sei quem é o senhor Abel Dias) os camiões hoje sejam obrigados a parar. Isto relativamente à greve dos transportes, em curso.
Ainda me sinto situado num quadro jurídico em que a única entidade que me pode mandar parar na estrada é a autoridade. Civil ou militar. Ou o Serviços de Saúde, numa emergência. Mas, afinal, no meu país, eu posso mandar ser parado pelo senhor Abel Dias. Que eu nem conheço mas que seguramente (e, ao que parece, devidamente legitimado) me garante uma sova se eu não parar.
Isto das greves actuais sempre me fez muita confusão. Mesmo entendendo a decorrência metodológica dos acontecimentos resultantes da Revolução Industrial e figuras mais ou menos iconográficas como J. Hoffa na sua permanente luta contra Roosevelt, a verdade é que me parece que o contexto actual se encontra claramente adulterado, tanto pelos beneficiários da luta sindical como pelos motivos usados para justificar o recurso à greve como, ainda, o facto extraordinário de que hoje, circunstancialmente, os prejudicados são sempre os utilizadores de serviços (utentes, na gíria corrente), muito mais do que os patrões. Mesmo porque na grande maioria dos casos os patrões são o patrão – o Estado, representado por gestores pagos a peso de ouro e para quem é indiferente o resultado anual da empresa.
Mas a questão é, ainda, outra. Não entendo como uma greve possa ser um direito constitucional e um trabalhador não fazer greve o não seja. Eu não tenho que concordar com as decisões ou os humores de sindicatos maioritariamente agregados a Partidos ou instituições com um forte pendor ideológico, normalmente a anos-luz de distância dos verdadeiros interesses dos trabalhadores, à luz de uma sociedade moderna, de desejável progresso e segurança social. Por isso me espanta que a rádio (TSF, quem mais?) dê a notícia que segundo o senhor Abel Dias (e eu juro que não sei quem é o senhor Abel Dias) os camiões hoje sejam obrigados a parar. Isto relativamente à greve dos transportes, em curso.
Ainda me sinto situado num quadro jurídico em que a única entidade que me pode mandar parar na estrada é a autoridade. Civil ou militar. Ou o Serviços de Saúde, numa emergência. Mas, afinal, no meu país, eu posso mandar ser parado pelo senhor Abel Dias. Que eu nem conheço mas que seguramente (e, ao que parece, devidamente legitimado) me garante uma sova se eu não parar.
ADENDA: Ainda há esperança. Parece que o senhor Abel Dias foi detido pela GNR. Na altura ele já tinha parado cinco camiões. A GNR deteve-o, levou-o, mas o senhor Abel já foi libertado. E disse que vai voltar à luta. Já há menos esperança outra vez.
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Etiquetas: Ai Portugal, greve dos transportes
4 Comments:
Há sectores – dos camiões, da estiva – em que a solidariedade não admite brechas. São sectores de forte carácter e de não menos forte musculatura. ;-)
Luísa
Pena que em muitos casos os músculos lhes corram para o cérebro :))))))
O senhor Abel Dias não é sindicalista,diz-se representante de camionistas patrões,e é dono de 11 camions.
Lá por ser patrão,tem todo o direito de defender os seus direitos,mas não se pode confundir com reivindicação sindical,será mais na área do boicote.
daniel tecelao
Point taken, meu caro, até porque os sindicalistas seriam incapazes de tamanha pressão sobre os fura-greves... :)
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