segunda-feira, outubro 11, 2010

A cena do orçamento


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Parecia pairar ontem uma sólida expectativa à volta da magna opinião de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a magna questão de o PSD dever aprovar ou não o orçamento do PS.

Causa-me uma certa estranheza esta forma de se aguardar a palavra de Marcelo como um católico aguarda e guarda «a palavra do Senhor». Afinal não me consta que Marcelo perceba de Economia, mau grado a sua aparente e reconhecida capacidade como professor de direito. Mas somos assim, somos um povo meio estranho acometidos de um patológico sebastianismo e nos deixa pendurados de uma figura desejada ou de uma palavra hipoteticamente sábia. A verdade é que Marcelo ontem limitou-se a emitir uma opinião enformada num comentário político. Se tivermos em conta que os comentários do Professor Marcelo assentam hoje mais numa forma habilidosa e competente de se manter na crista da popularidade do que numa argumentação substancial sobre os diversos assuntos da nossa vida pública, temos todas as razões para não o levarmos muito a sério. Independentemente da bondade dos seus comentários.

Foi assim que não consegui descortinar razões suficientemente fortes para a teoria de Marcelo ou, melhor, que as razões que ele aduziu estejam mais assentes na realidade política e económica do que nas suas assunções pessoais. Assim continuarei a aguardar que me expliquem porque é que o chumbo de um orçamento, que todos dizem ser mau, gerado por um Partido que todos dizem ter fortíssimas responsabilidades no descalabro económico e social que nos assola, Partido liderado por um homem sem preparação, mentiroso e desde sempre envolto na neblina de suspeição de muitos casos de venalidade e dolo e comprovadamente submerso em situações de ética reprovável e danosa dos nosso interesses, porque é que esse chumbo, perguntava eu, deve comprometer o nosso futuro como nação, como país integrante do concerto europeu e, no extremo, da zona Euro. Quando, afinal, o que me parece curial é que os socialistas (pelo menos estes, em palco) e o seu chefe de banda sejam, rapidamente afastados, mesmo com todos os custos que daí possam resultar. Está por saber, e os técnicos que se manifestem, quais os danos maiores. Passar por um período complicado ou manter este bando no poder.

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3 Comments:

At 8:30 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Caro Espumante,
Muito longe de defender Marcelo, achei o seu comentário político (para o caso não é necessário saber muito de finanças) de uma lógica cristalina, aliás, única abordagem possível nesta encruzilhada de prazos políticos. Quase todos os meses o estado vai ao mercado financiar o seu actual dédice; caso não haja orçamento (este ou outro negociado), o estado entra em colapso e nem sequer terá dinheiro para pagar os ordenados públicos (médicos, professores, magistrados...). Parece um exagero? Parece, mas é a mais límpida e cruel das verdades.
Abraço amigo,
Paulo

 
At 11:08 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Paulo Abreu e Lima

Quem sou eu para fazer uma avaliação firme sobre as razões técnicas e políticas que eventualmente aconselharão que o PSD deixe passar o orçamento?

O que verifico é esta «transferência» de responsabilidades através da qual se branqueia toda a acção (nefasta) do governo para colocar nos ombros do PSD a responsabiliadde de todos os males correntes no nosso país. O PS é especialista neste tipo de estratégias e, por razões que realmente, me escapam, sempre contou com a chamada boa imprensa. Da forma que as coisas estão a ser conduzidas, parece que o PSD é que tem a culpa do descalabro desta última meia dúzia de anos e das mentiras, MEN-TI-RAS, de Sócrates e Teixeira dos Santos, para além da mensagem clara de que ninguém naquele governo sabe já o que anda a fazer. É por isso que me dói esta forma superficial e diria que desculpabilizante de analisar a coisa e de colocar a carga em cima de Passos Coelhjo. E eu sou insuspeito, devo dizer-lhe que nem sequer voto Passos Coelho. Não nego que existem opiniões abalizadas (MFL, Pacheco Pereira, a maioria dos economistas, o próprio Presidente da República Durão Narroso, entre outros) a recomendarem a aprovação do orçamento. Pergunto-me é se cada uma destas personagens não terá razões especiais e contas de um rosário muito delas para emititrem esta opinião.
E mais. De um ponto de vista de um leigo em economia, como eu, eu acho que aprovar o orçamento pode até trazer benefícios imediatos ou evitar grandes males, talvez, porventura, uma baixa de juros para a dívida, mas se pensarmos bem, o que é que isso resolve do ponto de vista de seriedade e eficácia na governação, que este governo, claramente, não tem? Ora... se é para vir a ter os mesmos problemas daqui a um ano.... pois que esses problemas venham já e se varra esta gente para longe. Bem longe. O que, sei, será difícil, a avaliar pelas sondagens... incríveis... mas sondagens, para todos os efeitos.
Um abraço para si

Nelson

 
At 12:14 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Caro Nelson,
Compreendo e subscrevo quase na íntegra a sua opinião. E "quase" porquê? Porque uma coisa é a Lei do Orçamento, outra é a Lei de Execução Orçamental e outra, ainda, é a violação de ambas. Ou seja, o PS não tem, consecutivamente, cumprido nenhuma delas nestes últimos 5 anos. Mais: 40% do nosso actual endividamento foi provocado por este 1ºMinistro. Portanto, nada a estranhar se na Rubrica Despesa este governo voltar a derrapar. Mas no actual estado de coisas, sob pena de poder ser ainda muito pior, temos que ter um orçamento, o menos mau possível. Quanto à responsabilização do PSD é de somenos importância, porque circunstancial, porque faz parte de um medir de forças de calibre partidário. Sócrates é responsável por tudo isto, mas só voltará para o buraco de onde NUNCA devia ter saído se (e aqui concordo com o PPC) o PSD não tiver urgência, nem a demonstrar, em obter o poder a qualquer preço.

 

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