Febras com letras
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Um almoço a sós comigo a um Sábado recordou-me um prazer mais ou menos esquecido. Eu sei que é feio, quiçá pouco higiénico, mas ir comendo com o jornal dobrado ao lado esquerdo, tendo inclusivamente o cuidado de «calçar» as pontas das folhas debaixo da borda do prato ou com um talher avulso, tem o dúplice gozo de condimentar a leitura com os sabores do prato e quebrar a monotonia mastigante com as notícias frescas do dia.
Hoje, circunstancialmente, as «mininas» minhas filhas estavam ocupadas. Uma com tarefas domésticas inadiáveis resultantes, ao que parece, de uma semana inusitadamente agitada e a outra debandada para Lisboa para o Festival de Cinema de terror Motel X, a decorrer no S. Jorge. Foi isso que suscitou o almoço a sós comigo. Durante a semana mantém-se a rotina dos almoços com os colegas de trabalho, em que se fala de tudo e de nada, às vezes até se fala, saudavelmente, mal de alguém e os fins de semana são normalmente preenchidos com refeições com as filhas ou amigos. Hoje calhou almoçar sozinho, «hence» (que jeito que dá esta palavra inglesa…) o prazer inesperado de comer lendo o jornal, ou ler o jornal comendo, é uma questão de pontos de vista.
É curiosa a redescoberta de prazeres escondidos. Para além do prazer intrínseco há toda uma associação de factos ou circunstâncias da vida que, com o passar dos anos se vão alterando e, de repente, nos caem literalmente no prato da sopa.
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Etiquetas: intimista
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