quarta-feira, outubro 03, 2007

O borralho e a mantinha para os pés


[2054]

Eu sei que o mundo não é a minha janela, mas estar sentado a cumprir o meu gosto matinal de dar de comer ao blog, apanhando jorros de sol pela vidraça e ouvir ali na televisão ao lado que o país está em alerta amarelo pelo regime de aguaceiros, por vezes fortes, que se espera para hoje, dá-me um toque muito realista sobre o país em que vivemos. Esta questão da Prevenção e Defesa Civil (não estou seguro de que seja a designação certa) é um bom exemplo duma espécie de histeria passiva em que a nossa sociedade tem vindo a ser lenta e paulatinamente moldada. O Estado protector que nos fecha as janelas, tapa as frinchas, acende o borralho e nos traz o cobertor para aquecer os pezinhos.

É evidente que a defesa e Protecção civil de um território é indispensável, não é, sequer, discutível, há desastres, há fogos, inundações, há tudo aquilo que pode abalar uma comunidade e há a obrigação do Estado em prover os meios necessários para evitar ou, não sendo possível, amenizar os danos. Mas connosco… é diferente. Pode ser que seja impressão minha mas em cada palavra a anunciar um aguaceiro ou um pezinho de vento se nota uma acção deliberada em se inculcar nos simples, que somos todos nós os que andamos à chuva, que o Estado está cá para nos proteger. E isso nota-se, sobretudo, no empolamento que se dá ao aviso da “catástrofe”. É claro que “depois da catástrofe” também aparecem os tiranetes idiotas e burgessos a ralhar com o rebanho e a explicar que a “câmara não pode controlar as chuvas”, como aconteceu com o representante autárquico de Loures em Sacavém, mas isso já faz parte do guião.

Há, porém, um pormenor perverso nesta forma continuada de propaganda sobre a protecção que o Estado nos dá. É a ideia que se cria nas pessoas que o Estado está e tem a obrigação de estar sempre para nos ajudar. Seja para nos salvar duma inundação inesperada, seja para nos indemnizar de um coelho que morreu com micsomatose. E se não indemnizar, vimos todos para a rua cantar o “a luta continua” ou procurar uma canção de intervenção que fale da exploração de coelhos micsomatósicos por capitalistas sem escrúpulos.

E numa altura em que tanto se fala e tão pouco se faz sobre pedagogia, seria bom que se transmitisse a dimensão exacta da protecção que todos podemos e devemos esperar do Estado. E essa dimensão exacta poderia começar pela dimensão exacta, também, pelo menos tão aproximada quanto possível, das intempéries. Para que não passemos o dia a olhar para o céu à espera de ver quando é que o alerta laranja começa a actuar, como frequentemente acontece, enquanto, por outro lado, continuamos a fazer gala do desleixo do costume que faz com que quaisquer dez minutos de chuva nos dêem meio metro de inundações.


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4 Comments:

At 2:12 da tarde, Blogger 125_azul disse...

Aviso: Este blog está em alerta de Tsunami por causa dos coelhos que têm não-sei-o-quê, mas também há as ovelhas que têm a língua azul. Será o mesmo? Será mais grave?
Só não te protegem dos meus beijinhos, toma lá!

 
At 6:24 da tarde, Blogger LurdesMartins disse...

Os coelhos podem morrer dessa miccoisa?!?!? Tadinhos...

E eu ainda sou das tais que estupidamente dou ouvidos a essa gente que parece gostar de nos sobressaltar. Hoje ligo aos papás pra saber se a chuva fez estragos (alerta amarelo no distrito de Bragança) e perguntam-me eles de que chuvada estou eu a falar!!!
Nunca mais aprendo...
(mas se acontecesse os meus papás estavam protegidos, afinal foi accionado o alerta amarelito...)

Beijinhos (sem chuva também daqui!)

 
At 6:58 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

azulinha
E estava aqui estava a falar do casaquinho...
:)

 
At 6:59 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

lurdes
Ora aqui fica um bom exemplo :)))

 

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