Parabéns a Maputo
Quem aterra em Maputo no sentido Sul/Norte da pista é "isto" que vê. Há coisa mais verde e bonita?
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Se não fosse Cape Town eu atrever-me-ia a dizer que Maputo é a mais bela cidade africana. Mas já me atrevo a dizer que Maputo tem a graça e tem o tique não "do perfume de mulher" como dizia Tudela, mas de uma personalidade muito própria que lhe é conferida por uma geometria eficaz, bordejada por acácias que todos os anos a enchem de vermelho muito vivo.
Maputo faz hoje 118 anos (disse-me a Madalena que, nestas coisas e quiçá em muitas outras, é insubstituível). Vivi nesta cidade um pedaço alargado da minha vida no período pós independêcia e a ela devo muito do que aprendi, através de experiências humanas riquíssimas que me ajudaram a entender melhor o mundo. A ela me entreguei também, que isto de experiências é um "give and take", e lá deixei, pelo menos, uma árvore (uma pequena acácia da altura da minha filha mais nova em frente á minha casa na Kim Il Sung e que hoje é uma magnífica árvore com cerca de cinco ou seis metros) e o resultado de um trabalho, bem remunerado e honestamente retribuido a uma comunidade que dele precisava. Sempre achei que era a melhor forma de colaborar e "ajudar" o país.
Tive esta reflexão pela primeira vez quando num "primeiro de Maio" vi um rancho de mulheres de várias nacionalidades, muito louras no cabelo e muito cinzentas nas meninges, a marcharem com uma bicicleta ao lado e empunhando cartazes a dizerem que a bicicleta era o transporte do povo e, ao chegarem ao fim do cortejo em frente ao Conselho Executivo da cidade, dispersarem, entregarem as bicicletas aos organizadores e meterem-se nos respectivos BMW e Volvos e irem para casa, até porque Samora Machel ia fazer um discurso, devia ser uma estucha e lá em casa os canapés iam perdendo o "crispy" e o consommé ia arrefecendo. Nesse dia, numa fase em que o socialismo já me cheirava a mofo e hipocrisia, percebi que eu e muitos como eu, que assumíamos o facto de trabalharmos para uma multinacional e que pagamento bom exije trabalho honesto e eficaz, ajudávamos mais o país que aqueles que faziam da retórica paternalista a sua missão e iam arrastar as sandálias para uma manifestação com bicicletas e depois se metiam nos respectivos carros para ir para casa.
Mas isto são histórias que não vêm agora para o caso. O que interessa mesmo é que Maputo faz 118 anos (diz a Madalena) e sim - acho que Maputo é uma das mais belas cidades africanas e lá deixei uns anos de mim. Mas Maputo também me deixou um bom bocado dela que eu guardo com estima e saudade na minha arca de recordações das coisas boas.
Parabéns Maputo!
8 Comments:
Há :)
E não é que até escolhemos a mesma foto para comemorar a minha cidade!? - um beijo, IO.
Parabéns a Maputo, mas não esquecer a baía de Luanda.
Eu tenho de lá voltar!
Beijinho para ti. Recomendo-te o fotoblog Tributo a Maputo, onde fui buscar a informação!
IO
Pois escolhemos.
A propósito, naquela foto que postaste da Julius Nyerere, o primeiro prédio lá em cima, ao virar para o miradouro (hoje, Friedrich Engels) albergou-me durante um ano no 13º andar, antes de ir viver para a Sommershield, Kim Il Sung, esquina com a Damião de Góis, esquina imediatamwnte antes da outra esquina com a Kenneth Kaunda.
Tal como tu... não tinha cortinados na vidraça enorme da sala, por onde todas as manhas me entrava o sol nascente e a imagem do Índico a perder de vista...
beijo
:)
teógilo m
Não há que queixar. A baía de Luanda foi logo a seguir :))))
Madalena
Mas volta, querida amiga. Estás a 11 horas e pouco mais ou menos 1000 euros de distãncia...
beijinho e bom fim de semana
IO
Muitos passeios sabem muitas coisas de muito de mim. Não sei é se responderiam...
Um abraço para ti
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