domingo, janeiro 08, 2017

Os idiotas úteis e os inúteis imbecis



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Este período pós-passamento de Soares está a tornar-se doentio e reflecte bem o que somos a exercer domínios e a sermos dominados. Deliberadamente não falarei sobre Soares e tanto me apetecia dizer… basta “googlar” «Espumadamente Mário Soares» e quase que dava um livro… mas já o meu avozinho dizia que não se bate em mortos. E Soares está morto e o mínimo a que me sinto obrigado é não aproveitar a maré.

Mas, todavia, há uma questão que me provoca arrepios. Não na TV (sintonizada há dois dias para filmes, futebol e séries…) mas em crónicas e comentários. Qual seja a voz corrente de que Soares é o pai da democracia para a generalidade dos portugueses, com excepção da Direita e dos retornados. Causa-me uma urticária severa ouvir uns quantos badamecos (que de badamecos de trata) falar de coisas de que não têm o mais remoto conhecimento. À partida, fazem um caldeirada entre a Direita e os “retornados” o que é uma prova evidente de ignorância e pura estupidez. E depois quando vejo os autores das crónicas e dos comentários e percebo que grande parte deles nem teriam nascido no 25 de Abril e/ou muito provavelmente jamais terão ido a África no tempo colonial, não consigo evitar um frémito de repulsa por tanta imbecilidade. São frequentes as referências aos colonos como uns “direitolas” que passavam a vida e beber uísque, a caçar gazelas e a bater em pretos. Já li até de pessoas que sabem que a maioria das crianças brancas passava a vida a andar de baloiço, empurradas pelas crianças negras.

É muita imbecilidade e muita ignorância por parte destes cronistas, comentaristas, especialistas, todos muito sociólogos, muito ISCTE, muito Adão e Silva para ficar calado. O que geralmente se tem estado a afirmar é de um desrespeito total por cerca de um milhão de portugueses que viviam nas ex-colónias. E achar que a maioria tinha os filhos a andar de baloiço empurrados por crianças negras enquanto os pais bebericavam uísque no Clube de Caçadores em Luanda é de uma exasperante imbecilidade.

E não precisavam de Soares ter morrido para falar no assunto. Podiam falar antes, porque os retornados já acabaram há cerca de 40 anos (cabe aqui dizer que muitos deles ocupam hoje lugar de relevância no empresariado nacional e, muitos outros, no estrangeiro, em vez de irem para a frente do ministério da educação com cartazes a dizer que saíram da faculdade há mais de um ano e o governo ainda não lhes arranjou emprego). Mas falar agora dá mais sainete. Mesmo que o falecido tenha muito mais a exprobar que enaltecer. Mas isso é outra história de que prometi não falar, em respeito total pela máxima do meu avozinho que Deus tem.


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