Perderam o tino
E eis que surge uma jovem, roliça e razoavelmente falante,
com uns olhitos vivos e sensual q.b. que caiu no gosto do rebanho. Diz umas coisas
com graça, outras sem graça nenhuma, quase todas com aquela insuportável
altivez da chamada esquerda que acha que veio ao mundo para o endireitar. Mas,
lá diz o ditado, em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Para além de um
conjunto de felizes coincidências, qual seja a de uma correlegionária, igualmente
bonitinha e ladina, de verbo fácil e olhos bonitos ter aparecido num inquérito
parlamentar e ter caído no gosto dos nossos jornalistas. Catarina se chama a
primeira, Mariana, chama-se a segunda.
Juntas alcandoraram o Bloco de Esquerda à invejável posição
de terem duplicado o número de deputados. E a grei estremeceu. Ali estava Catarina,
actriz, como o CV diz, dando lições de política e de condução de massas. Levada
ao colo pelos jornalistas, sobretudo pelas televisões (na campanha, dificilmente
passavam cinco minutos sem que Catarina não aparecesse, quase sempre dizendo a
mesma coisa), em breve Catarina lançava na obscuridade as Dragos, as Joanas (esta
última mesmo despida) e passou a fazer parte da primeira divisão da nossa
atmosfera política.
E de imediato passou a exigir e a impor regras. Ao PS, já se
vê. Com os olhitos vívidos de ternura sonolenta e voz de falsete iniciou a
lista de ditames que devem condicionar a colaboração do Bloco ao PS. As pessoas
ouvem-na e excitam-se e ninguém se questiona como será possível esta piscadela de
olhos do Bloco ao Poder? E no PS, quando mais não seja por uma questão de honra
alguém lembrou a pequena que se há alguém que, pelo menos por enquanto, imponha
condições são os socialistas e não o Bloco? E alguém colocou à jovem duas ou
três perguntas, como por exemplo, o Bloco ainda quer nacionalizar a Banca,
deixar o Euro, renegociar a dívida (no extremo, não pagar), instigar e
monitorizar cursos intensivos sobre desobediência civil, assaltos à propriedade
privada (com destruição de bens, como um campo de milho, por exemplo, coisa que
de repente me veio à ideia…) e mais uma longa lista de “benfeitorias” que foram
a imagem de marca de um Partido que não sabe nem quer conviver com a liberdade
e a cidadania sacrossanta do individual?
A mim preocupa-me esta excitação. Com o PS derrotado,
desmantelado e em claro processo de desagregação, coisa que, de resto, acho muito
bem feito por nunca terem sabido libertar-se de utopias serôdias e estabelecer
uma liderança eficaz que acabasse com a tralha jurássica de comunistas reciclados
(objectivamente responsáveis por tragédias avulso da nossa sociedade, das quais
me ocorrem, assim de repente, a descolonização exemplar, três bancarrotas e um
punhado de vigaristas, alguns deles, felizmente, presos), receio que possam
cair na tentação de não se amarrarem ao mastro e seguirem as sereias. Sobretudo
porque esta sereia de olhos verdes, na minha opinião, não é mais que um
subproduto de uma esquerda anquilosada e revanchista e sem qualquer competência
ou consciência de governança. Para os mais distraídos, lembro, por exemplo, uma
entrevista recente de José Gomes Ferreira em que Catarina Martins foi trucidada,
perante questões de política macroeconómica em que, via-se, Catarina
demonstrava não fazer a mais remota ideia do que se estava para ali a dizer.
*
*
Etiquetas: socialismos
1 Comments:
a praia da senhora é o teatro.
por isso, convenceu-se de que a sapiência pode aflorar se gritar e gesticular, como se estivesse a ser assaltada.
Enviar um comentário
<< Home