Um reparo
Escrever sobre derrotas e vitórias de ontem torna-se já
extemporâneo, tal o caudal de comentários e crónicas que vai por aí. Claro que
há reacções que merecem algum relevo (ocorre-me a estranha Canavilhas e a ainda
mais estranha Roseta), mas pegar num campo tão rebuscado parece-me já desnecessário,
senão mesmo estultícia.
Mas há um campo que me parece estar a passar mais ou menos
incólume às críticas e que, no meu entendimento, é objectivamente merecedor da
mais viva crítica e claro repúdio. Refiro-me, de forma clara, à maioria da
comunicação social e à quase totalidade de comentadores que durante quatro
porfiados anos tosaram o governo, sem dó nem piedade. Algumas vezes com razão,
outras, na maioria, sem razão nenhuma, todavia sempre com aquele ar chocarreiro
e insultuoso mais ou menos compreensível por se tratar, pretensamente, de gente
de invulgar envergadura intelectual.
E muita dessa gente deveria ser apontada a
dedo, porque muita dela vai começar a virar a ponta ao prego, sem vergonha nem
hesitação. O Eixo do Mal, por exemplo, já esta noite mostrou um ar cordato e
razoavelmente deferente para com a coligação, com excepção do Daniel de Oliveira,
honra lhe seja feita, que é assim uma espécie de versão revista e melhorada do
PC que há quarenta anos que ganha sempre as eleições – no caso do Daniel Oliveira,
ele pode perder, mas tem sempre razão. Como se viu com o «Livre». E até o
intratável Pacheco Pereira ontem se mostrou surpreendentemente mais simpático.
Mas aguardo, com alguma curiosidade, a atitude da vasta maioria de jornalistas
e comentadores da SIC, da TVI e mesmo de alguns da RTP. Durante quatro anos
adoptaram o diapasão do pisoteio e malquerença, com um refrão comum – a iminência
da queda do governo que, imagine-se, não só não caiu como foi reeleito.
Não me esquecerei facilmente das diatribes de Ferreira Leite,
de Constança, Marques Mendes, Pacheco Pereira, Bagão Félix e a habilidade camuflada
de uma infinidade de gente da comunicação social que, por ser tanta, torna
difícil, enumerá-la, mas que facilmente se sabe quem é. Esta gente prestou um
mau serviço ao país. E não se confunda o que digo com qualquer ideia de
pensamento único. Acho saudável, indispensável, mesmo, a pluralidade de
opiniões. Mas isso não pressupõe desonestidade nem malabarismos. E foi a isso
que se assistiu durante quatro anos, todos os dias, deturpando de forma soez
aquilo que deveria ser a preocupação primeira perante o público. O respeito pela
verdade e pelas pessoas a quem essa verdade é devida.
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Etiquetas: comunicação social
1 Comments:
caríssimo, que ideias mais disparatadas.
só lhe peço um favor: continue! :-)
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