quarta-feira, outubro 14, 2015

Mais um crime pró jornal...




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E eu que pensava que a diáspora tinha adquirido uma matriz diferente. Escorraçados de Portugal, obrigados a abandonar a zona de conforto, convidados sub-repticiamente por Passos Coelho a emigrar, tristes e a cantar, com um nó na garganta, aquela cançoneta inconcebível em que o Pedro Abrunhosa diz que a Alemanha é muito cinzenta, faz um frio do caraças em Paris, Amsterdão está cheia de putas, eles querem é voltar para os braços da mãe. Foram, ainda, objecto de comentários cerrados e lúgubres durante quatro anos seguidos a bater no ceguinho, nas televisões e jornais, mesmo assim acabam por votar no PAF. Resultam mais três deputados para a coligação e um para o PS. Donde imagino que o PS (1), o BE (0) e o PCP (0) ganham a emigração também.

No meu tempo (eu não fui propriamente emigrante, mas vivi muitos anos fora de Portugal, em vários países) dizia-se que os emigrantes votavam na direita porque tinham muitas saudades de Portugal e não estavam politicamente consciencializados para votar. Talvez poucos saibam ou se lembrem, mas durante muito tempo foi o próprio Mário Soares a emperrar o voto dos emigrantes. Porque Mário Soares pode até ter feito “muitas Fontes Luminosas” mas nunca deixou de pertencer àquela casta muito acima da mole ignara que vivia lá fora e, no mínimo, eram uns saudosistas meio abrutalhados e, por tal, não deveriam votar, porque votariam na direita e era porque Salazar já tinha morrido.

Afinal, menos brutos, muitos deles licenciados, mestrados e doutorados e se calhar nem conhecendo bem a cantiga do Abrunhosa ou nem sabendo quem é a Ana Lourenço ou a Constança, continuam a não querer nada com a esquerda. Mas um dia começam a dizer que não são os jovens que votam, são os pais ou os tios deles que lhes mandaram uma carta de chamada. E vistas bem as coisas, o Costa ganha outra vez. Porque os portugueses, emigrantes ou não, querem a mudança. E o Costa cá está para lhes fazer a vontade.

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