Tugas ajuramentados
Vem aí mais uma leva de comentadores políticos para a
televisão. Gente que em alguns casos se viu guindada a posições de relevo na
sociedade portuguesa, não pelo seu valor intrínseco mas mais pelo valor facial
duma reconhecida mestria em se insinuar na mediocridade que é a marca de água
da nossa sociedade.
Isto a propósito de eu ter tropeçado no anúncio de que
Jorge Coelho ia botar sentença, também. E aumentar o já elevadíssimo número de
políticos que nos vêm ensinar como se faz, explicar o que não se faz e mostrar
como poderíamos pensar para sermos todos como deve ser. Não que isso lhes
importe, que comentar na TV serve poucos propósitos que não seja dar de beber
ao rancor de funções mal conseguidas ou afagar o ego enorme e arrogante de
muitos dos fazedores da opinião doméstica.
Não sei se o número inaudito de políticos a debitar verbo na
televisão (mesmo quando o conjugam de forma deficiente e há-dem ver se não
tenho razão) terá paralelo em algum outro país do mundo. Mas, em minha opinião,
reflecte bem a gente que somos, o país que fizemos e parecemos apostados em
continuar. Não me ocorre nenhum outro país onde a opinião pública seja presa de
tantos políticos, ex, to be’s e would be’s como o nosso. Talvez isso explique
muita coisa, incluindo a forma como alegremente resvalámos para uma situação
sem fim palpável.
De alguma forma, reflicto sobre a conjugação evidente entre o
número e qualidade dos nossos comentadores e o famoso acordo ortográfico, outro
exemplo em que devemos ser caso único no panorama mundial. A pressa, ligeireza,
vaidadezinha e irresponsabilidade com que, oficialmente, nos balançámos à adopção
e implementação (ver o Bom dia Portugal, diário, da RTP) do acordo ortográfico,
sem haver sequer consenso entre os países de expressão portuguesa e provado que está o
elevado número de erros criados e vocabulário incompleto, tem a mesma matriz desta patética corrida das televisões em porem caras mais ou menos influentes a palrar
o que lhes vai na alma ou mesmo que lhes encomendam, quais sacristães
amestrados a quem se encomendou a missa conveniente e recebem, no fim, uma
piedosa bem-aventurança.
Este desabafo podia não ter nada a ver com Sócrates que nos
começa a azucrinar amanhã. Mas acaba, também, por ter. Porque não me conformo.
Não propriamente pelo facto da nefasta e nebulosa criatura receber, de novo,
púlpito adequado, mas mais por ver como é possível que isto aconteça.
Temos o país que merecemos e somos aquilo que parecemos
gostar de ser. Nada a fazer, portanto.
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Etiquetas: Ai Portugal, comunicação social, paineleiros
2 Comments:
Como eu te compreendo.
É que me custa muito engolir esta desfeita!!!
xx
Subscrevo na íntegra!
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