Gostar e ser gostado
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Imagino que Deus ande sempre muito ocupado. Os bonzinhos do céu a portarem-se mal de vez em quando, as alminhas do purgatório a merecerem a Sua permanente preocupação pela sua eventual remissão e os maus do inferno a suscitarem a Sua infinita misericórdia pela visão daqueles diabinhos todos a esturricá-los nos fornos e a picarem-lhe os rabos com aquelas forquilhas que o mafarrico-mor comprou numa empresa de sucata em Portugal, numa das suas viagens de tentação para distribuir benesses, diplomas de curso, robalos, reformas chorudas e «friportes».
Imagino ainda que Ele deve ter um arquivo imenso, Deus é eterno mas o mundo é frenético, os homens não Lhe dão descanso e é natural que Ele precise de meios auxiliares para manter viva a recordação dos detalhes, gostos e merecimentos de cada qual.
Cá para mim, o «all mighty» tropeçou no meu processo. Folheou-o com alguma displicência, e reparou então numa das minhas paixões de sempre. Da música brasileira em geral e da fabulosa Gal Costa em particular. Vai daí, mexeu as suas influências e fez com que de repente me aterrasse na residência a colecção da discografia da diva. Ainda estou meio apardalado com o privilégio e muito, mas muito, tocado pelo gesto. O meu carro agora está cheio de CD’s da Gal e durante muito tempo tenho a certeza que não oiço o Forum da TSF. Nem o Pedro Marques Lopes, nem o Pedro Adão e Silva. Nem o Louçã, Pinto da Costa, Fernando Rosas ou o Boaventura de Sousa Santos ou outros lídimos representantes da Câmara de Horrores em que se tornou a nossa comunicação social.
Durante um bom tempo a Gal vai encher o meu carro, vai-me consolar, e vai-me acompanhar em muitos itinerários, dos quais o mais marcante será a marginal. Em dias de sol e azedas de Inverno, de malmequeres da Primavera à passagem de Caxias, do calor quente e brilhante das praias cheias de gente de corpos acobreados no Verão e do Outono-delícia, com as folhas a cair, a temperatura a descer e os dias a apequenar-se no meio das cores só possíveis na estação. E olho para o mar, o meu fetiche de sempre, e esboço uma expressão de homem feliz por Deus ter os seus arquivos em dia. E nessa expressão feliz cabe o conforto e o carinho de me sentir recordado em dias especiais.
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Etiquetas: aniversários, coisas boas
1 Comments:
Não me digas que és o da foto?
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