terça-feira, setembro 07, 2010

O chiqueiro


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Tenho uma especial repugnância pelo abuso de crianças. Daí que nem sequer tenha estado a ligar muita importância ao corrente escândalo da Casa Pia. Porque, repito, me repugna e porque não tenho dados que me permitam emitir opiniões e porque tenho a sensação muito viva que uma boa colecção de criminosos está a passar ao lado da justiça por força da nossa tradicional venalidade, compadrio e consabida promiscuidade entre o poder e diversas corporações e instituições. Repugna-me ainda uma sociedade como a nossa, em que sobressai a evidência de uma impunidade que releva do nosso auto-convencimento de que o poder ou a sua proximidade tudo permite. Talvez porque desgraçadamente evidenciemos esta nossa faceta de «xico-esperto», transformada em soberba e impunidade a partir do momento em que dispomos dos chamados pequenos poderes, tão ou mais perniciosos que o poder absoluto.

Esta arenga vem a propósito da intenção de Carlos Cruz em desenrolar uma extensa lista de individualidades supostamente envolvidas no caso Casa Pia mas que, por esta ou aquela razão, não foram pronunciadas. Por um lado, uma coisa é eu achar que há mais gente implicada e não pronunciada, coisa de que estou genuinamente convicto, outra é o reconhecimento de que atingimos o grau zero na nossa sociedade, transformada em chiqueiro, onde nos sentimos sufocar na nossa própria natureza, no caso vertente consubstanciada numa verdadeira manta da nossa própria trampa. Que nos faça bom proveito. E que venha de lá a tal lista, que o i vai vender imenso…

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