Tenho de ir à bruxa
[839]
A estrada nem é íngreme por aí além, para quem conhece o sítio é aquela parte que vai do MacDonalds de Birre, lá para cima para a Areia. E lá ia eu, irritado por não haver mais desmultiplicação de carretos, já em primeira, pedalando estoicamente em nome da saúde e, também, para não desmerecer das amigas que piedosa e solidariamente vão dizendo que tenho charme, certamente para disfarçar outras carências fisionómicas erodidas por alguns anos que já andam por aqui a mais e não tinham nada de andar, pedalando, dizia eu, devidamente encostado à berma e diligentemente envergando um colete fosforescente, e eis senão quando, “vejo um silvado” e para ele sou obrigado a atirar-me, empurrado (é o termo) por um jeep preto quase novo, cheio de pneus largos e cheio de tracção às quatro rodas que é uma coisa que, como se sabe, aqui nas ruas de Cascais faz muita falta.
Paro a bicicleta, atordoado e ofegante e gera-se o seguinte “diálogo”:
- Não tens mulher em casa ó f…..?
- …
É contigo, sim, meu c…. eu f… o focinho seu f… da p...não tens mulher em casa?
- …
Aqui comecei a ver a coisa a andar para trás. Estava ali sozinho, cansado, ofegante e sem poder com uma gata pelo rabo e um energúmeno, por acaso até nem muito corpulento, bem vestidinho e com cara de quem consegue ter um orgasminho às sextas, mas absolutamente vidrado de ódio e de ciúme a invectivar-me, a mim, eu que não o conhecia de lado nenhum e num deplorável estado de cansaço físico.
No meio disto tudo há uma mulher. Uma mulher que sai do jeep, que grita, barafusta e que começa a agarrar o homem (??) por um braço, sendo de imediato empurrada, enquanto os insultos se viravam de novo para mim.
-Então? Não dizes nada, seu p….?
Aqui fiquei mais descansado. Achei que se o homem me quisesse mesmo bater ou tivesse barba rija para isso já o teria feito. Ora se ele voltava àquele chorrilho de insultos e me perguntava se eu não tinha nada que dizer, era porque não estava assim tão certo que eu estivesse cansado da bicicleta (ou da mulher dele, sei lá…).
Começo a ensaiar um plano qualquer, dizer qualquer coisa, dizer que não o conhecia a ele de lado nenhum, muito menos conhecia a mulher que, a avaliar pelo estilo da discussão, deveria ser a que acabara de ser empurrada e é quando a mulher se mete entre mim e o energúmeno e grita “PÁÁÁÁÁÁRA, isto não tem nada a ver com este senhor”. Ao que se segue uma lista de argumentos, perguntas e respostas que eu, confesso, já não fixei.
Cerca de dois minutos depois de discussão violenta e acesa lá entre eles enquanto eu ofegava à chuva (sim, estava, entretanto, a chover) metem-se no carro e foram-se embora. E eu fiquei ali, olhando para a bicicleta e a pensar que eu devo ser, realmente, um tipo muito, mas muito vulgar de homem. Já que não é a primeira vez que sou julgado por outro. Uma vez levei mesmo um murro, em Santarém, como conto aqui...
Curiosamente sempre em histórias de cueca…
A estrada nem é íngreme por aí além, para quem conhece o sítio é aquela parte que vai do MacDonalds de Birre, lá para cima para a Areia. E lá ia eu, irritado por não haver mais desmultiplicação de carretos, já em primeira, pedalando estoicamente em nome da saúde e, também, para não desmerecer das amigas que piedosa e solidariamente vão dizendo que tenho charme, certamente para disfarçar outras carências fisionómicas erodidas por alguns anos que já andam por aqui a mais e não tinham nada de andar, pedalando, dizia eu, devidamente encostado à berma e diligentemente envergando um colete fosforescente, e eis senão quando, “vejo um silvado” e para ele sou obrigado a atirar-me, empurrado (é o termo) por um jeep preto quase novo, cheio de pneus largos e cheio de tracção às quatro rodas que é uma coisa que, como se sabe, aqui nas ruas de Cascais faz muita falta.
Paro a bicicleta, atordoado e ofegante e gera-se o seguinte “diálogo”:
- Não tens mulher em casa ó f…..?
- …
É contigo, sim, meu c…. eu f… o focinho seu f… da p...não tens mulher em casa?
- …
Aqui comecei a ver a coisa a andar para trás. Estava ali sozinho, cansado, ofegante e sem poder com uma gata pelo rabo e um energúmeno, por acaso até nem muito corpulento, bem vestidinho e com cara de quem consegue ter um orgasminho às sextas, mas absolutamente vidrado de ódio e de ciúme a invectivar-me, a mim, eu que não o conhecia de lado nenhum e num deplorável estado de cansaço físico.
No meio disto tudo há uma mulher. Uma mulher que sai do jeep, que grita, barafusta e que começa a agarrar o homem (??) por um braço, sendo de imediato empurrada, enquanto os insultos se viravam de novo para mim.
-Então? Não dizes nada, seu p….?
Aqui fiquei mais descansado. Achei que se o homem me quisesse mesmo bater ou tivesse barba rija para isso já o teria feito. Ora se ele voltava àquele chorrilho de insultos e me perguntava se eu não tinha nada que dizer, era porque não estava assim tão certo que eu estivesse cansado da bicicleta (ou da mulher dele, sei lá…).
Começo a ensaiar um plano qualquer, dizer qualquer coisa, dizer que não o conhecia a ele de lado nenhum, muito menos conhecia a mulher que, a avaliar pelo estilo da discussão, deveria ser a que acabara de ser empurrada e é quando a mulher se mete entre mim e o energúmeno e grita “PÁÁÁÁÁÁRA, isto não tem nada a ver com este senhor”. Ao que se segue uma lista de argumentos, perguntas e respostas que eu, confesso, já não fixei.
Cerca de dois minutos depois de discussão violenta e acesa lá entre eles enquanto eu ofegava à chuva (sim, estava, entretanto, a chover) metem-se no carro e foram-se embora. E eu fiquei ali, olhando para a bicicleta e a pensar que eu devo ser, realmente, um tipo muito, mas muito vulgar de homem. Já que não é a primeira vez que sou julgado por outro. Uma vez levei mesmo um murro, em Santarém, como conto aqui...
Curiosamente sempre em histórias de cueca…
7 Comments:
Sempre ouvi dizer que não há coincidências ;)
Bem, eu não gostava de passar por uma "cena" destas...
De qualquer modo, deu um belo post, se é que vale a pena ver as coisas do lado positivo, quanto toca a demonstrações imbecis e façanhudas dos machos da nossa praça. Foste um verdadeiro gentleman. Aliás, és!
Um beijinho para ti a dobrar, já que estou a chegar da Passada e vi o teu recado! (donde vi o teu recado , como diria o treinador do Sportem... Por que é que ele usa tantos "dondes"?)
Um verdadeiro encontro imediato! Ainda bem que saíste inteiro! :)
Xana
HomÉssa>
:)
Madalena
"Donde" só te digo que é para isto que um homem nasce, quando menos esperamos acontece uma cena edificante como esta. Mas eu... devo ter imã, para estas coisas. Não conheço o homem, não conheço a mulher, não conheço o carro, não sei de nada...
:)
Beijinho
Lilla Mig
Bons olhos te leiam :)))
Sim, saí inteiro.
Continuo na (vã ?) esperança de que te ensinem a pôr música para eu copiar :))))
Beijinho amigo
ehehehehehhe
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