A estucha do costume
Confesso que me é indiferente se é Costa ou Seguro a tomar
conta do PS, tal a irrelevância de cada qual na melhoria do contexto geral do
nosso país. De Costa esperar-se ia um pouco mais de ourelo no que diz, salvo se
está genuinamente convencido que todos continuamos a ser uma colecção acabada
de primitivos facilmente excitáveis por ver um burro a ganhar uma corrida a um
Ferrari na Calçada de Carriche. No fundo, Costa, como a generalizada maioria da
consensualmente designada esquerda democrática, parece genuinamente convencido
de que basta uma tirada de declarações mais ou menos pomposas para nos por a
correr para a urna. Daí que, dentre várias irrelevantes declarações com que ele
nos tem mimoseado na sua amicíssima imprensa, agora tenha redescoberto a cana
para o foguete e tenha perguntado: -Como é que saímos desta situação? Reduzir a despesa? Não! Aumentar a receita por via de impostos? Também não. Ele, Costa,
tem a solução. Aumentar a riqueza (eu ia dizer que ele disse isto sem se rir,
mas é mentira, Costa ri sempre) e que, cito, tínhamos de ensinar o governo a fazê-lo.
Não há pachorra para este discurso. Presumo que ele vai
dizer mais cem vezes que precisamos de aumentar a riqueza sem nunca dizer como.
É vê-lo já amanhã na Quadratura se ele não o fará, enquanto JPP vai afivelar a bonomia
recente que confere ao socialista e ALX vai ficar com cara de quem já tem paciência
para aquilo.
É a vida. Com o dizia o outro. O dos refugiados. O das
paixões e do Vangelis. Vivemos este ciclo de martírio em que não conseguimos
marginalizar esta esquerda rebarbativa, incompetente e populista. No mesmo dia
há um socialista enraivecido porque Rio teve um superavit na Câmara do Porto e
outro a berrar, emocionado e pedagógico, que temos de criar riqueza e ensinar o
governo como é. E depressa. Porque os portugueses estão com uma pressa danada
de sermos resgatados, por via desta figura salvífica que nos caiu agora no prato
da sopa.
*
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Etiquetas: delícias do socialismo, não há pachorra, orgasmos múltiplos socialistas
5 Comments:
Sigo assiduamente este seu site e só lamento que nem sempre possa escrever! Mais uma vez dou-lhe toda a razão neste texto sobre o Messias do PS. Continue... tem aqui um leitor fiel.
O Costa só diz boçalidades de cremalheira sempre à vista. Daqui a nada diz que a solução é aumentar o emprego e, mais tarde, ganhar o euromilhões. É disto que o meu povo gosta. Facilidades espertas.
Abraço.
Carlos Oliveira disse
Sempre acutilante, certeiro e de análise perfeita...
Daniel Santos
Eu poder escrever, poderia. Com toda a franqueza. A questão é outra. Daqui a muito poucos dias este blogue faz 10 anos, o primeiro post foi escrito a 7 de Julho de 2004 (o meu amigo Paulo Abreu e Lima, que comenta mais abaixo, co-autor de um dos mais notáveis blogues de sempre, o «Guarda-Factos», entretanto extinto, sabe disso porque era meu leitor desde essa altura). E desde aí completei mais de 5.000 posts. Sobretudo porque durante todos estes anos escrevi quase sempre todos os dias e, por vezes, mais do que um post por dia. Eu gostava de acompanhar a actualidade nacional e encontrava sempre um motivo para escrever com gosto. Às vezes com uma pontinha de humor que parecia ser apreciado, pelo menos a julgar pelas alturas em que cheguei a ter regularmente entre 400 e 500 visitas diárias.
Mas isto é como tudo. As coisas tornam-me repetitivas, os factos são mais ou menos os mesmos, os autores são, definitivamente, os mesmos e confesso algum fastio que, naturalmente, afecta a qualidade do que se escreve e «cansa» quem lê.
De qualquer maneira, o seu comentário é uma massagem no ego e aqui lhe deixo um agradecimento pela sua amável observação.
Nelson Reprezas
Paulo Abreu e Lima
O drama é que as boçalidades caem bem. Exactamente por, como diz, é disso que o povo gosta :))))
Carlos Oliveira
Agradeci ao Daniel Santos e retribuo-lhe a si, igualmente a cortesia
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