Começou a gritaria
De repente anda tudo aos gritos. Quem, como eu, adormeceu
com o televisor ligado e acorda com a SIC aos berros percebe que a crise está a
ficar para trás e que as falinhas mansas de há dias, com aquela contenção das
consciências pesadas e uma pretensa compostura com ares de sentido de estado
deram lugar à rebaldaria do costume, aos gritos, ao nível baixo de quem a única
maneira que conhece de fazer política (!!!!) é emitir os silvados de um comboio
a frenar ou os guinchos de uma porca parideira. Dedo no ar, olhos faiscantes e
profusa chuva de perdigotos, aí estão todos contra todos com razões, acusações,
soluções e salvações à la carte, felizes por terem nascido, convencidos da sua indispensabilidade
ao bem-estar e desenvolvimento nacionais, mais não fazendo que passar uma
duvidosa carta de alforria à nossa proverbial estupidez.
Há exemplos para todos os gostos mas, como de costume,
sobressai Jardim a chamar submarino a Portas e a dizer que a culpa dos males da
Madeira é daquela gente lá em Portugal. Passos também aumentou os decibéis, na
justa medida do aumento da sua auto-confiança, mas a miseranda actuação de
Seguro ultrapassa os limites da condescendência, incomoda. Então desde que
Soares disse que ele era fraco, ei-lo aos gritos, mas manifestamente sem jeito
nenhum para aquilo e a suscitar a caridade e tolerância devidas aos pobres de
espírito. E até Sócrates anda por aí à solta, com a vergonha no bolso.
Tudo junto e somado a sensação que fica é que ninguém sabe
bem o que está para ali a gritar, nem porquê. O que ressalta é que de repente
parece que não temos contas para pagar, que não atravessamos uma das mais
humilhantes crises de identidade da nossa história, que a vida dos portugueses
se desenrola na maior normalidade e há que actuar já em campanha. E por
campanha entende-se a gritaria. Se alguma ideia ou afirmação interessantes
surgem por entre os gritos será um mero acidente.
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Etiquetas: campanha para eleições, momento político
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