E os carecas?
No idos de oitenta, andava eu ocupado e empenhado com um grande projecto de cerca de 35.000 has de arroz num país africano, privei de
perto com uns pilotos cubanos de pulverizações aéreas. Felicíssimos porque ganhavam, em moeda local, qualquer coisa como US$300. Mas, superlativa felicidade, no
regresso a Cuba eram-lhes atribuídos pontos (sim, pontos, do tipo dos que nos
dão em alguns postos de abastecimento de combustível) que lhes permitiam
comprar artigos de luxo, como um aspirador ou uma torradeira. Um pouco mais tarde
conheci búlgaros, felizes com o mísero salário local que auferiam já que no regresso a casa tinham direito a arrendar um andar de três assoalhadas, ou uns
romenos a quem Ceausescu concedia a suprema graça de poderem comprar um carro
usado e, ainda, lhes concedia uma emulação socialista, um documento inenarrável
onde a excelência do trabalho e o carácter do indivíduo eram enaltecidos.
Cerca de trinta anos mais tarde, venho a saber que no meu
país os funcionários da Carris têm uma cláusula (a 69) no seu Acordo
Colectivo de Trabalho, mediante a qual têm direito às suas próprias barbearias, que há dois deputados comunistas que empregam o seu tempo a discutir o assunto no Parlamento e que os sindicatos acedem a que se feche as barbearias em troca do pagamento de €12 /mês a cada um dos funcionários (suponho que aos
carecas também…).
Eu acho que temos os problemas que merecemos.
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Etiquetas: Ai Portugal, coisas extraordinárias
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