quinta-feira, julho 11, 2013

E os carecas?


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No idos de oitenta, andava eu ocupado e empenhado com um grande projecto de cerca de 35.000 has de arroz num país africano, privei de perto com uns pilotos cubanos de pulverizações aéreas. Felicíssimos porque ganhavam, em moeda local, qualquer coisa como US$300. Mas, superlativa felicidade, no regresso a Cuba eram-lhes atribuídos pontos (sim, pontos, do tipo dos que nos dão em alguns postos de abastecimento de combustível) que lhes permitiam comprar artigos de luxo, como um aspirador ou uma torradeira. Um pouco mais tarde conheci búlgaros, felizes com o mísero salário local que auferiam já que no regresso a casa tinham direito a arrendar um andar de três assoalhadas, ou uns romenos a quem Ceausescu concedia a suprema graça de poderem comprar um carro usado e, ainda, lhes concedia uma emulação socialista, um documento inenarrável onde a excelência do trabalho e o carácter do indivíduo eram enaltecidos.

Cerca de trinta anos mais tarde, venho a saber que no meu país os funcionários da Carris têm uma cláusula (a 69) no seu Acordo Colectivo de Trabalho, mediante a qual têm direito às suas próprias barbearias, que há dois deputados comunistas que empregam o seu tempo a discutir o assunto no Parlamento e que os sindicatos acedem a que se feche as barbearias em troca do pagamento de €12 /mês a cada um dos funcionários (suponho que aos carecas também…).

Eu acho que temos os problemas que merecemos.
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