quinta-feira, novembro 17, 2011

As boas rotinas




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São onze horas da manhã e só agora me meti ao caminho de Lisboa. Pela marginal, como é meu hábito. O dia está magnífico nos seus insólitos e aconchegantes vinte graus e os meus olhos banham-se numa luminosidade que nos põe de bem com o mundo e nos traz a lembrança de um rosto de mulher sorrindo. O azul do mar parece uma aguarela viva, saltada da paleta divina de alguém mais poeta que pintor, com a sensibilidade dos homens e a inspiração dos deuses.

Deixo a viatura percorrer preguiçosamente o asfalto confortavelmente aliviado do trânsito, pelo adiantado da hora, e arrisco uma nesga de vidro aberto, por onde me entra uma lufada de ar puro que me enche o habitáculo do aroma de pinheiros bordejando a estrada, logo após a passagem de um recanto intimista que todos os anos, na mesma época, se cobre de malmequeres muito brancos e muito densos, formando um quadro de cenário e significado únicos.

Liberto também as rédeas do pensamento e comprazo-me com o desfile de memórias que este trajecto já me concedeu, algumas delas bem vivas e recentes. E concluo que nem sempre temos razão quando nos deixamos abater pelo azedo das rotinas diárias ou pelas incertezas do futuro. O presente muitas vezes nos oferece momentos gratificantes como o desta manhã e as próprias rotinas frequentemente se revestem de cores e significados de transcendência estimável para o conforto do corpo e para o aconchego da alma. E nem o tilintar do telefone anunciando, quem sabe, uma mensagem inesperada, um objecto perdido e reencontrado, quebra a magia do momento.
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1 Comments:

At 10:37 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

A verdadeira felicidade...a dos instantes mágicos eternizados...:)*

 

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