terça-feira, março 29, 2011

Samba de uma nota só


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As gentes habituaram-se já a uma crise continuada e, talvez por isso, indolor, de valores referenciais de estadistas e líderes mundiais. O mundo tornou-se uma amálgama imperfeita onde várias figuras se entrechocam e vão fazendo jurisprudência numa cada vez mais apertada arena onde coabitam interesses, egos, personalidades moldadas por uma cada menos exigente sociedade de cultura e conhecimento, sintomas roçando a sociopatia, ódios, amores frustres e uma trágica tendência das lideranças para o controle das vontades, na assunção da detença das verdades únicas, sobretudo daquelas que no primeiro relance defendem os fracos, os oprimidos, as vítimas dos poderosos, os velhos, os doentes, as minorias, mesmo que isso obrigue a um prodigioso exercício de hipocrisia – afinal um fenómeno em que os homens aprenderam a especializar-se sem fazer grande esforço. Os líderes actuais são correntemente fracos, incultos, ignorantes das mais básicas ciências aplicáveis ao desenvolvimento, bem-estar e liberdade dos povos. Pior ainda, ressumam habitualmente ódios antigos e isso proporciona caldos de cultura frequentemente perigosos na condução dos negócios de Estado e entre Estados.


Este arrazoado vem a propósito de uma torrente de banalidades a que o ex-presidente Lula submeteu os seus anfitriões, na circunstância o nosso próprio Presidente da República, sobre a inoperância e, pasme-se, as malfeitorias do FMI. De Lula esperar-se ia que, pelo menos, ele soubesse exactamente o que é o FMI. Mas, aparentemente, não sabe. Ou, o que é pior, sabe e não conseguiu evitar o lançamento do opróbrio sobre uma organização de que internacionalmente «cai bem» dizer mal, frequentemente sem se saber bem porquê. Apenas porque é fácil colar o FMI aos poderosos, aos agiotas, especuladores, exploradores e à faceta mais ignóbil de uma outra coisa muito cara ao terceiro mundo – o capitalismo e o imperialismo. No caso do Brasil, Lula não hesitou mesmo em afirmar que o FMI não fez bem, fez mal, quase que implicitamente colando a si próprio o resgate de uma economia exangue, apesar da acção do FMI. Porque, disse ele, o FMI não resgatou a economia brasileira, piorou a economia brasileira. E que para Portugal, a receita não deveria passar pelo FMI, para ele, a única clareza que ele tinha é que a Europa é muito grande e haveria de ter soluções para Portugal, Grécia e Irlanda. FMI é que não. Lula dixit e alguns jornalistas portugueses acharam até alguma graça ao dislate. Houve mesmo um que perguntou a Lula se o Brasil estaria disposto a comprar dívida soberana de Portugal. Lula esqueceu-se de que já não era Presidente… disse umas patacoadas, disse nim, claramente embaraçou-se com a pergunta e aí deve ter-se lembrado que Dilma vinha aí. Ela para ter a certeza de que apesar da demissão de Sócrates iria ser recebida de acordo com o protocolo. E ele, Lula, oração de sapiência dada sobre economia e ciência política internacional, preparou-se para amanhã ser doutorado pela Universidade de Coimbra. Tudo isto existe, tudo isto é triste… mas juro que não é fado. Neste caso é samba. E samba de uma nota só!

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4 Comments:

At 4:44 da tarde, Blogger Dulce Braga disse...

Consulta a Wikipédia e vê se não está mais pra "samba do crioulo doido"!:)*

 
At 5:26 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Excelente
A de Melo

 
At 12:19 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Dulce Braga

Obediente, consultei a Wikipédia. Acho que até consigo personificar a Princesa Leopoldina e o Tiradentes. Agora quem fará de D. Chica da Silva é que não estou a ver :)))
:)*

 
At 12:20 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

A de Melo

Não sei com quem estou a falar mas obrigado pela visita e pela observação

 

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