E quando o mundo mudou? De supetão? Sem avisar?
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«A culpa e não haver PEC 4 é do PSD e do CDS. A culpa de haver portagens nas Scuts é do PSD que viabilizou o PEC 3. A culpa do PEC 3 é do PEC 2. Que, por sua vez, tem culpa do PEC 1.
Chegados a este, a culpa é da situação internacional. E da Grécia e da Irlanda. E antes destas culpas todas, a culpa continua a ser dos Governos PSD/CDS. Aliás, nos últimos 16 anos, a culpa é penas dos 3 anos de governação não socialista.
A culpa é do Presidente da República. A culpa é da Chanceler. A culpa é de Trichet. A culpa é da Madeira. A culpa é do FMI. A culpa é do euro.
A culpa é dos mercados. Excepto do "mercado" Magalhães. A culpa é do "rating". A culpa é dos especuladores que nos emprestam dinheiro. A culpa até chegou a ser das receitas extraordinárias. À falta de outra culpa, a culpa é de os Orçamentos e PEC serem obrigatórios.
A culpa é da agricultura. A culpa é do nemátodo do pinho.
A culpa é dos professores. A culpa é dos pais. A culpa é dos exames. A culpa é dos submarinos. A culpa é do TVG espanhol. A culpa é da conjuntura. A culpa é da estrutura.
A culpa é do computador que entupiu. A culpa é da "pen". A culpa é do funcionário do Powerpoint. A culpa é do Director-Geral. A culpa é da errata, porque nunca há errata na culpa. A culpa é das estatísticas. Umas vezes, a culpa é do INE, outras do Eurostat, outras ainda do FMI. A culpa é de uma qualquer independente universidade. E agora em versão pós Constâncio, a culpa também já é do Banco de Portugal. A culpa é dos jornalistas que fazem perguntas. A culpa é dos deputados que questionam. A culpa é das Comissões parlamentares que investigam. A culpa é dos que estudam os assuntos. A culpa é do excesso de pensionistas. A culpa é dos desempregados. A culpa é dos doentes. A culpa é dos contribuntes. A culpa é dos pobres.
A culpa é das empresas, excepto as ungidas pelo regime. A culpa é da meteorologia. A culpa é do petróleo que sobe. A culpa é do petróleo que desce.
A culpa é da insensibilidade. Dos outros. A culpa é da arrogância. Dos outros. A culpa é da incompreensão. Dos outros. A culpa é da vertigem do poder. Dos outros. A culpa é da demagogia. Dos outros. A culpa é do pessimismo. Dos outros.
A culpa é do passado. A culpa é do futuro. A culpa é da verdade. A culpa é da realidade. A culpa é das notícias. A culpa é da esquerda. A culpa é da direita. A culpa é da rua. A culpa é do complexo de culpa. A culpa é da ética.
Há sempre "novas oportunidades" para as culpas (dos outros). Imagine-se, até que, há tempos, o atraso para assistir a uma ópera foi culpa de um PM de Cabo Verde.
No fim, a culpa é dos eleitores, que não deram a maioria basoluta ao imaculado. A culpa é da democracia. A culpa é de Portugal. De todos. Só ele (e seus pajens) não têm culpa. Povo ingrato! Basta! Na passada quarta-feira, a culpa... já foi.»
Há aqui uma falha grave de Bagão Félix. Então e o mundo? Ter-se-á esquecido Bagão Félix das vezes que o mundo mudou? Quantas vezes Sócrates no-lo anunciou?
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Etiquetas: comunicação social, ralé política, Sócrates
2 Comments:
Se calhar, Nelson, essa é a única culpa verdadeira, a do mundo que muda. Mas o mundo muda a todo o momento para toda a gente. Facto que remete a culpa, em última análise, para quem não o vê, não o compreende e não se adapta.
P.S.: Está excelente o artigo de Bagão Félix, cheio da sua ironia habitual.
Luísa
Eu confesso que não tinha Bagão Félix na conta de ser dono de tão fina ironia...
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