Aaa-tchoooooo
Pólens de pinheiro. Os pólens não se querem bonitos...
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Ando com uma pulga atrás da orelha. É que anda tudo muito calado. Todos os anos as nossas rádios e televisões vestem aquele tique de modernidade e o fascínio do chique às suas emissões, com pomposas rubricas denominadas como boletins polínicos e correlativos. A gente ouve, não liga muito, mas no intimo sabe que mais um tema de conversa de restaurante está aí para ser usado e cientificamente dissecado. Os pólens e as alergias. Houve tempo em que as alergias se confinavam, mais ou menos, aos ácaros, mas eis que se descobriu que o ácaro é um plebeu mal amanhado, um parente mal visto dos aracnídeos. Se os aracnídeos já eram bichezas pouco recomendáveis, facilmente se entende porque é que as pessoas deixaram de ser alérgicos aos ácaros. E não foi só o parentesco que os relegou para as profundezas da indiferença, acontece que os ácaros têm uns gostos esquisitos de alimentação, por exemplo. Imagine-se que comem cabelos, pêlos, escamas de pele, bolores e outros produtos orgânicos. Imaginemo-nos a uma mesa de restaurante explicando que fomos atacados por ácaros que nos comem os cabelos, os pêlos das axilas, nos roem a epiderme, as unhas dos pés e atacam aquele pedaço de pão bolorento de que nos esquecemos no canto da mesa da cozinha. Mau aspecto, claro. Isto deu força aos pólens. Alergias, sim. Mas aos pólens. Muitos de nós aprendemos mesmo que o pólen é a célula masculina que possibilita a propagação das flores. Logo, garante a continuidade da espécie. E imaginamos a cena bucólica de milhões de células masculinas, empurradas pela brisa (nesta parte não se diz vento, diz-se briiiiiiisa) à procura de gineceus algures pelos prados e jardins, aguardando o flirt e o acasalamento com um pólen que se veja. Tanto quanto se saiba parece não haver ainda pólens que gostem de pólens, eles querem mesmo é gineceus e encher o mundo de novas flores. Mas este é um ponto que não é para aqui chamado e pode causar alergias avulso. E é assim que entramos agora na época das grandes questões alérgicas. Como disse no princípio do post, estranho que ainda não tenham começado as grandes dissertações sobre as a alergias e sobre aqueles boletins polínicos que ninguém entende mas que nos fazem sentir muito mais reconfortados ao sair de casa. Tipo:
- Bom dia, pá, tudo bem?
- Tudo, vou trabalhar.
- E está tudo bem contigo?
- Tudo, ando a espirrar um bocado, mas já se sabe, a primavera está aí…
- Pois, eu sei, lá em casa tenho os miúdos a espirrar, até já recomendei para se ter muito cuidado ao mudar o saco do aspirador, limpar bem os aparelhos de ar condicionado e, sobretudo, já disse à crianças que não façam festas aos gatos…
- É. Tens razão. É preciso ter cuidado. Mas hoje estou mais sossegado. Antes de sair ouvi o boletim polínico no «Bom dia Portugal», parece que há uns pólens ali pela Av. da Índia, mas nada de cuidado…
E por aí fora. O português, moderno e precavido, vai substituir, sazonalmente, as dores nas costas, pelas alergias. Vai, até exercitar diálogos interessantes onde trará a lume a sua cultura. Irá «tutear» nomes como as coníferas, os cupressos, ciprestes, juníperos e pinheiros. Aqui e ali vai mesmo deixar cair um toque de cultura geral dizendo que os miosótis produzem os mais pequeninos grãos de pólen. E, entre dois espirros, concorrerão para o desporto nacional. Falar de doenças e mostrar que sabem do que falam. Pelo menos até começar a época dos incêndios.
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4 Comments:
Quantos espirros matinais deste hoje para esta fantastica inspiração?:)*
Eheheh
Viva! Santinho! Saúde! Deus te abençoe!
Dulce Braga
Dei... por acaso dei uns quantos. Daí ter-me lembrado que este ano ainda não tinham falado de boletins polínicos. Mas foi sol de pouca dura. Hoje aí estão as rádios e televisões em força :)))
:)*
Pedro Barboda Pinto
Obrigado :))))
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