Malangatana
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Conheci Malangatana Valente em 1980, em casa de um amigo comum, em Maputo. Nunca tinha ouvido falar dele mas um dia vi alguns dos seus quadros e impressionou-me o «sentimento» que cada um deles exalava… não sei dizer isto doutra maneira, não sou crítico de arte, pelo que a expressão que mais facilmente me ocorre é exactamente esta. Um sentimento – fosse ele qual fosse, eu não saberia defini-lo bem, embora houvesse já na altura «peritos» na matéria que se desdobravam em críticas a este grande artista moçambicano. Que era muito bom, que era vulgar, que era monocórdico, que só pintava ao ritmo da revolução. Ou da desgraça, da fome e do sofrimento. Que plagiava Picasso, sendo evidentes os traços do mestre espanhol nos seus quadros. Eu ouvia e calava. Porque não achava nada daquilo. Achava apenas que os quadros tinham um sentimento muito forte, o tal «sentimento», para além de uma evidente harmonia cromática, se me quiser aventurar um pouco mais em terrenos que não domino (alô Filipa, help!). Mais tarde, quando o conheci pessoalmente achei que eu tinha alguma razão. Porque Malangatana era verdadeiramente um sentimental. A pintar, a falar, a «estar». Mesmo num período crítico de reminiscências da memória moçambicana relativamente à época colonialista, sempre vi nele (sempre, porque o encontrei mais vezes) um posicionamento muito, mas muito acima da crítica fácil e conveniente ao colonialismo português. Ainda que o criticasse. Frequentemente em quadros que pintou. Mas Malangatana, sem instrução (hoje é doutor honoris causa pela Universidade de Évora), sabia imprimir uma grande elevação a tudo o que dizia. Como, afinal, aos seus quadros. Só assim se explica como uma modesta figura moçambicana (chegou a ser «mainato») se tornou um artista internacionalmente conhecido e presente num grande número de museus e galerias de arte internacional.
Agora, morreu. Em Matosinhos. Mas deixou obra e muitos portugueses partilham um genuíno orgulho nela. Vá-se lá perceber porquê.
Conheci Malangatana Valente em 1980, em casa de um amigo comum, em Maputo. Nunca tinha ouvido falar dele mas um dia vi alguns dos seus quadros e impressionou-me o «sentimento» que cada um deles exalava… não sei dizer isto doutra maneira, não sou crítico de arte, pelo que a expressão que mais facilmente me ocorre é exactamente esta. Um sentimento – fosse ele qual fosse, eu não saberia defini-lo bem, embora houvesse já na altura «peritos» na matéria que se desdobravam em críticas a este grande artista moçambicano. Que era muito bom, que era vulgar, que era monocórdico, que só pintava ao ritmo da revolução. Ou da desgraça, da fome e do sofrimento. Que plagiava Picasso, sendo evidentes os traços do mestre espanhol nos seus quadros. Eu ouvia e calava. Porque não achava nada daquilo. Achava apenas que os quadros tinham um sentimento muito forte, o tal «sentimento», para além de uma evidente harmonia cromática, se me quiser aventurar um pouco mais em terrenos que não domino (alô Filipa, help!). Mais tarde, quando o conheci pessoalmente achei que eu tinha alguma razão. Porque Malangatana era verdadeiramente um sentimental. A pintar, a falar, a «estar». Mesmo num período crítico de reminiscências da memória moçambicana relativamente à época colonialista, sempre vi nele (sempre, porque o encontrei mais vezes) um posicionamento muito, mas muito acima da crítica fácil e conveniente ao colonialismo português. Ainda que o criticasse. Frequentemente em quadros que pintou. Mas Malangatana, sem instrução (hoje é doutor honoris causa pela Universidade de Évora), sabia imprimir uma grande elevação a tudo o que dizia. Como, afinal, aos seus quadros. Só assim se explica como uma modesta figura moçambicana (chegou a ser «mainato») se tornou um artista internacionalmente conhecido e presente num grande número de museus e galerias de arte internacional.
Agora, morreu. Em Matosinhos. Mas deixou obra e muitos portugueses partilham um genuíno orgulho nela. Vá-se lá perceber porquê.
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Etiquetas: Malangatana, Moçambique
6 Comments:
Admiração e respeito por esse grande artista cruzei me com ele no CC Franco Moçambicano, em Maputo e sou portuguesa. Espero que a admiração por ele possa ser considerado uma coisa boa, os grandes artistas são do Mundo inteiro e não só de uma nacionalidade! São Grandes! Que Malangatana e a sua obra permaneça na memória do Mundo! Bem haja!
Sou moçambicana mas agora vivo em Portugal há uns anos a esta parte. Ao princípio os quadros de Malangatana pareciam ser quase sempre a mesma coisa, mas depois comecei mesmo a apreciar a beleza e o significado.
Que ele descanse em paz porque deixou uma grande obra
Moçambique perdeu uma das suas referências artísticas. Para mim Malangatana era 'guerra', 'sofrimento', 'angústia' e 'revolta' o que não é de todo inconcebível tendo em conta o seu percurso de vida. Aquela terra é mais Naguib ou Agostinho Mutemba. É com a imagem destes dois últimos que recordo os seus encantos.
Rita
Concordo consigo, Rita
Fausia V.
Deixou sem dúvida, Fausia
Carlos Araujo
Não tenho dificuldade em entender o que dizes, embora não conheça bem a obra de Mutemba
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