sábado, dezembro 04, 2010

Cheira pior. Bem pior.


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A primeira vez que reparei em Alberto João Jardim foi através de um jornal português em Joanesburgo. Chamava-se «Século de Joanesburgo» e era objectivamente dirigido aos emigrantes da cintura do Rand. Como meio milhão deles eram madeirenses, havia profusa informação sobre a Madeira. Nele, no jornal, Jardim escrevia crónicas ao jeito do mestre-escola, pedagógico, autoritário e populista e era o exemplo acabado do «stick and carrot» que, como se sabe, é uma fórmula que sempre funcionou bem junto da subserviência e da expectativa do favorzinho. Mais tarde fui-me familiarizando com o estilo da criatura, a sua truculência eficaz, o seu jeito desabrido, vi-o de cuecas em fotos abundantemente reproduzidas pelos jornalistas que o odeiam, vi-o aparentemente com os copos, mascarado de carnaval e a chamar nomes aos políticos do «contnente», da sua cor ou «sucialistas», tanto fazia, desde que lhes chamasse ladrões. No entanto, percebi que o homem dizia muitas verdades e, aparentemente, é sério. Não tem fortuna pessoal, faz empréstimos para pagar casa, tem uma existência frugal e nunca o vi ou soube envolvido em manobras escuras ou dúbias.

Agora leio isto e revoltam-se-me as tripas. Isto é uma forma de, no fundo, se captar votos e simpatias também, mas puxando de uma dose arrepiante de provincianismo parolo que, naturalmente, afaga e engorda o parolismo das gentes que lhe garantirão o voto em troca de uma manobra venal e, mais grave, à custa do contribuinte. É absolutamente uma pouca-vergonha, palavras de Marques Mendes. E na pouca-vergonha reside talvez a grande diferença entre a truculência frontal de Jardim e o cinismo, amiguista, conivente, caciqueiro, quiçá ilegal deste socialista tão apegado ao poder como Jardim mas, definitivamente, cheirando muito pior.

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