Agora que nos dói o dente...
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Quanto ao pagamento das SCUT’s, em si, apetece-me dizer que é bem feito. Porque nos tempos que parecem já longínquos, em que o bonzinho Guterres prometia auto-estradas para toda a gente “à borla” para evitar a desertificação do interior e o não tão bonzinho João Cravinho emprestava um ar mais racional à coisa, dizendo que as scut´s se pagavam a si próprias (lembram-se???), o rebanho foi votar obediente nestes émulos da economia moderna, apesar dos avisos sérios de que pura e simplesmente tal não seria possível e que íamos empenhar as futuras gerações por mais trinta ou quarenta anos. Mas o povo gosta de pão, circo, futebol e auto-estradas de borla e foi a correr votar naquela rapaziada, ao som de Vangelis e dos ralhetes de Sampaio aos polícias.
A realidade obriga a que o Governo, agora, tome o caminho que era óbvio já há uns anos atrás, ou seja a velha máxima de que não há almoços grátis, só Guterres e Cravinho (e, provavelmente, alguma agência de comunicação) acreditavam. E fazer a grei pagar pela utilização de uma das mais vastas e eficazes redes de auto-estradas europeias.
O que me parece verdadeiramente bizarro é a ausência de portagens e portageiros. Para poupar dinheiro? Será… mas não é de prever uma grande atribulação com utilizadores ocasionais dessas estradas? Parece-me evidente que o famigerado «chip» pressupõe uma utilização regular dessas estradas e esquece aqueles que esporadicamente tenham necessidade de o fazer, obrigando-os, de resto, a cativar quantias (€50?) que poderão levar muito tempo até serem usadas.
A verdade é que gostamos muito destas coisas, somos especialmente atreitos ao uso e abuso da «tecnocracia» sem cuidarmos da burocracia ou dos efeitos secundários desta febre tecnológica. Temos, aliás, uma fronteira muito ténue entre a tecnocracia e o «mangadalpaquismo». Daí que me pareça um perfeito disparate e um abuso a obrigatoriedade do «chip». É preciso pagar portagem? Pois que ponham lá os portageiros e lhes paguem e os que não quiserem ir para a bicha que adiram à «via verde». Mas obrigar-nos, feitos bovinos em fila para marcar as orelhas, não.
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Etiquetas: à la PS, Ai Portugal, scut's
6 Comments:
Lá chegaremos, lá chegaremos... Aliás, a meu ver, a Via Verde, o Cartão do Cidadão e outras coisas que tais, de que agora não me lembro, já são disso manifestações. Orwell mais não fez que antecipar.
O que vale é que enquanto os correios não forem nacionalizados, as filas vão ser pequenas. Imagino a coisa a desenvolver-se da seguinte amneira:
Primeiro deixam escapar para a comunicação social que a marcação das orelhas, como nos bovinos, está a ser estudada pelo Governo para entrar em vigor no prazo de seis meses.
Quando faltar um mês para a data prevista, altura em que o pessoal começa a estrebuchar e a avançar com ameaças de revolta (estás-me a chamar boi, ó boi?), um Secretário de Estado vem explicar que tudo não passa duma grande campanha de desinformação da oposição, porque o que o Governo pensa lançar é o microchip simplex, que nem sequer tem que ser aplicado na orelha, (quem quiser pode aplica-lo no cachaço) e que, experimentalmente, os bébés nascidos a Norte do Mondego passam já a saír das maternidades microchipados.
Face a estes novos dados, o pessoal serena, e a partir daí apenas quer saber do seu benfeitor de quanto tempo dispõe ainda para poder ter acesso ao dito microchip gratuitamente.
Um abraço :-)
Essa do mangadalpaquismo é muito
boa. Por cá é o que não falta. Quanto aos bois, não será "boys"
Alexandra
Normalmente estas medidas provêm de gente pequenina...com poder grande ou, no mínimo, com algum poder que lhes serve de sapatos de tacão alto. Sempre assim foi e sempre assim será. E Orwell conhecia bem os sapatos de cada qual :))
Pedro Barbosa Pinto
Acabará tudo como está já delineado. Os florilégios a que o PSD e PS se têm entregue fazem parte do folclore. Infelizmente...
anónimo
Infelizmente, neste caso é bois e boys...
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