Os puristas
[3805]
Ontem vinha para a casa e na rádio (TSF) ecoava a ressaca dos 7-0 à Coreia. É claro que à euforia do momento, e assente a poeira, começaram a surgir os cientistas do pontapé na bola a balizarem o feito, sendo que uma das questões tratadas era a linha clara que alguns dos nossos críticos estabelecem entre o que chamam uma selecção pura e uma selecção descaracterizada (sic). Ora este «descaracterizada» só pode referir-se a Deco, Pepe e Liedson que são de origem brasileira. Um dos puristas, por exemplo, repetia à exaustão que ontem, até aos 4-0, TODOS os jogadores eram exclusivamente de origem portuguesa.
Alguém explique a estes puristas que há leis de nacionalidade e estas, como quaisquer outras, deverão ser observadas na pureza da sua substância. Um cidadão tem ou não tem condições para ser cidadão nacional. Se não tem… paciência. Se tem, tem e as dúvidas terminam ali. Um cidadão nacional é um cidadão nacional. Vota, tem os direitos e os deveres de um cidadão nacional e, entre outras coisas, o de representar a selecção nacional. Talvez não fosse mau, igualmente, explicar a estes puristas que nem sempre é aconselhável esmiuçar muitas gerações acima, não vá a pureza da nacionalidade ser inquinada com algumas surpresas mais ou menos desagradáveis.
Isto é uma atitude típica de alguns (muitos) portugueses. Fazemos um escarcéu desgraçado se se identifica um ladrão ou um «hikacker» pela sua etnia, aqui d’el rei que somos um bando de racistas. Chega-se ao pontapé na bola e é isto. Há lugar para questionar a pureza das origens dos jogadores da selecção. Não dá para perceber… ou dá, que nestas coisas de nos percebermos a nós próprios somos peculiares, ou seja, ninguém percebe ninguém e todos achamos que todos têm obrigação de nos perceber. A nós, pois «atão».
.
Etiquetas: Bom português
15 Comments:
Graças a Deus que antes do jogo começar, parece que todos fizeram o sinal da cruz, alguns umas três ou quatro vezes... eu estava preocupado que algum colocasse um Kippah na cabeça ou se ajoelhasse virado para Meca!
Não tem nada a ver com racismo. Mas uma selecção nacional de futebol deve manter as suas características próprias
Se outros países nas suas selecções utilizam jogadores com dupla nacionalidade, porque não Portugal?
Pedro Barbosa Pinto
Não aconteceu nada disso, felizmente :)))) mas se acontecesse e todos tivesse preenchido os requisito s de nacionalidade...
anónimo
Claro, anónimo... acho mesmo fundamental... caracteristicamente fundamental :))))
John Iscas
São os mistérios insondáveis...
Ficamo-nos mais pelo: "quando convem" ...
Eu pergunto-me se a esta malta não fará também confusão o Danny, que nasceu na Venezuela, e o Daniel Fernandes que nasceu no Canadá, e que falam pior português que o Deco o Pepe e o Liedson.
Ou mesmo esse congolês que emigrou para a Guarda e que tanta falta nos faz no lado direito da defesa...
Alexandra
Eu nestas coisas sou muito pragmático e um...hummmm... legalista convicto. Se há leis, as mesmas deverão ser cumpridas. Esta cena recente de se lançar o opróbrio sobre os naturalizados é mais um exercício de retórica e protagonismo dos nossos profissionais da esferográfica do futebol do que propriamente uma convicção. Sobretudo porque são os primeiros a exprobrarem a minha atitude se eu me queixar "numa esquadra perto de mim" que fui assaltado por um negro ou por um cigano, ainda que a minha indicação seja absolutamente no sentido de ajudar à identificação do ladrão...
André
Ó Genro, só fiquei curioso em saber quem é o tal defesa direito que emigrou para a Guarda. Assim de repente... Guarda... só me ocorre o Sócrates a desenhar casas :)))
Ó sogro, quem é o defesa direito - com probabilidade de ter nascido no congo - e que está lá a fazer falta?
Curiosamente também é José ;)
André
Pois... o Bosingwa... mas... Guarda? O homem foi paea a Guarda? Se ele joga no Chelsea... explica lá como se eu fosse muito burro :))
Muito bem dito, oh espumante!
E o Queiroz é macua, como o era Costa Pereira. E moçambicanos de nascença, os grandes Coluna, Eusébio, Vicente e Hilário. Na geração do meu pai, houve Matateu e Mário Wilson. Ah, e na minha Académica, Brassard e Rui Rodrigues. E o meu avô paterno, que foi 'backer' no Desportivo da então LM, era de Belém de Pará: Viva a diversidade cultural!
Um beijo divertido,
IO
IO
Já tinha reparado há uns temos no eu regresso, Isabella e tenho visitado o Chuinga com regularidade e fiel devoção. Enterneceu-me aquela sequência de casas e sítios e fotos por onde viveste. De repente, quase sem dar por isso, já me vim embora há 14 anos... é certo que voltei lá algumas vezes mas tudo aquilo me parece tão próximo...e Maputo está uma cidade muito bonita... e até o meu barco ainda existe. E mais... em bom estado de operacionalidade :)))
Fico contente que constinues a ser um amigo do 'chuinga', porque és dos de sempre, oh espumante!
Eu também, mesmo no tempo sem (quase) tempo, tentei cá vir ao menos uma vez por semana. Mas agora, tentarei ser mais assídua outra vez.
beijo,
IO
Enviar um comentário
<< Home