domingo, junho 28, 2009

Home sweet home

[3206]

Regresso ao torrão pátrio e envolvo-me subconscientemente na atmosfera usual das linhas primordiais de pensamento da paróquia. De imediato reparei que mais do que nunca é visível o sistema de sempre que não se pode fugir de verberar Sócrates ou o Governo, se cai no parêntesis inevitável de puxar os governos PSD à liça. Um exemplo, dos inúmeros que observei, vem numa crónica do director do Expresso que cito: «Quase diariamente percebemos que a sobrevivência de gestores e projectos depende das boas graças do Governo, do facto de não denunciarem, de concordarem, de serem subservientes. E não se pense que digo isto em relação a este Governo específico – o mesmo mal que hoje temos com Sócrates já tivemos com Cavaco Silva ou com Durão Barroso e Ferreira Leite…».

Não descartando a verdade que exista subjacente a esta afirmação, o que choca é que em múltiplas referências às trapalhadas socretistas se utiliza o mesmo método – a forma cuidada e cirúrgica de nunca alijar a co-responsabilidade dos outros Governos. Ou seja, nunca deixar o PS ou Sócrates a fazer asneiras sozinhos. Há como que um temor reverencial sempre que não há como fugir às trapalhadas, mentiras, incompetência e inabilidade do Grande Líder, como ainda agora aconteceu com o caso da PT, em que toda a gente diz e acha que Sócrates mentiu, mas…

É uma forma estranha de sermos e mesmo quando se chama a atenção para este facto, o argumento final é que toda a gente mente em política, entenda-se por isso Sócrates mentiu mas não é nada que os outros não façam, como ainda agora aconteceu com a esganiçada ponta de lança do Eixo do Mal que acha que Sócrates mentiu, mas todos mentem. Mal, mal, andou Cavaco Silva (diz ela, Clara FA, naturalmente, com a jugular palpitante) em considerar sequer as eleições autárquicas e legislativas para o mesmo dia. Ou seja, cinco segundos depois de ser instada a comentar a mentira de Sócrates, aí tínhamos Clara a desfiar os seus ódios sobre Cavaco. Um método velho e relho mas que funciona à perfeição.

Estar fora do país por uma semana tem esta virtude. Primeiro liberta-nos desta pressão diária de ouvir todos os dias, as mesmas pessoas a dizer o mesmo. Com a agravante de lhes pagarem por cima. E depois, faz-nos entender melhor esta forma pequenina de sermos, como este manifesto, em reacção ao manifesto anterior (somos manifestamente um povo de manifestos) onde aparece uma impressionante colecção de professores doutores das mais variadas universidades a ensinar-nos como devemos fazer face à crise económica. Vale a pena ler a lista de subscritores, até para percebermos como é que estes professores doutores que nunca criaram emprego que se visse, pelo menos que me conste, mas antes empunham e agitam currículos académicos que lhes garantem o ordenadinho ao fim do mês, têm a distinta lata de se manifestarem como paladinos da verdade e detentores do segredo do sucesso no combate às crises. Se os deixassem, como é... manifesto. Aquela verdade que nos poderia conduzir á criação de múltiplos postos de trabalho, não fosse a maldade de outros subscritores de outros manifestos, natural e manifestamente, anquilosados pelos «interesses instalados» e pela ausência da luz salvífica que nos deveria mostrar a trilha da felicidade do bom povo português.
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2 Comments:

At 7:47 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

você conhece todos os subscritores do manifesto?

 
At 7:50 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Anónimo

Não.

 

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