terça-feira, abril 28, 2009

Mais Prós e Prós


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Referindo-me à sessão de ontem (que não vi na totalidade), parece-me evidente que estes Prós e Prós são cada vez mais uma encomenda clara no sentido de dar cor ao Portugal cinzento que medra pelo meio de uma tão profunda crise. Não viria daí mal ao mundo se houvesse um mínimo de honestidade e genuinidade no propósito, mas o que se verifica é que tanto pela escolha dos participantes e convidados, como pelas matérias abordadas e pela forma como as mesmas são tratadas, rapidamente chegamos à conclusão que antes de se tratar de um exercício de propaganda pura ao Governo e ao regime, estamos perante um acto de evidente maltratamento da inteligência dos portugueses, aqui tratados como crianças traquinas (e estúpidas) que é preciso carrilar com psicologias avançadas ou, no mínimo, como borregos tresmalhados de um rebanho que é preciso manter agrupado e obediente aos seus pastores.

Um dos pastores de serviço (Mário Soares, quem mais?) proferiu uma das mais disparatadas apologias à profunda mudança mundial, à bênção da eleição de Obama (facto de estranhar, por ele ser um afro-americano, disse Soares, paternalista e mordaz quanto a uma sociedade naturalmente inquinada pela administração anterior) e ao evidente descalabro do neo-liberalismo. Palavra de honra que jamais ouvi Soares explicar o que é que ele entende por neo-liberalismo, fico até com a sensação que nem ele mesmo sabe exactamente do que é que está a falar, mas isto posso já ser eu a ser má-língua. Mas Soares, com audiência bovina e batuta conveniente, conseguiu falar e falar e falar e falar sobre as malfeitorias do capitalismo e da sua profunda convicção de que, finalmente, as coisas iam mudar.

Sampaio da Nóvoa também deu um ar da sua graça, sobretudo da exigência dos tempos modernos em estender o poder para além dos partidos, isto é, tudo deverá ser escrutinado por organizações cívicas (Nóvoa bateu muito neste pormenor) e devia estar a pensar no regresso a grupos dinamizadores, células de bairro e representantes dos “trabalhadores “ nas decisões estratégicas das empresas. Entre outras coisas do mesmo quilate, para cuja descrição me falece a paciência para evocar.

Anacoreta Correia e um punhado de estudantes deram um toque de colorido e aquiescência à coisa e Leonor Beleza pareceu-me naturalmente deslocada no meio daquilo tudo, contrastando com Fátima Campos Ferreira, segura, impante, sorridente e didáctica. Por mais que me digam, estas sessões, mais do que enfermando dos índices de situacionismo de Pacheco Pereira, parecem-me uma representação clara de um quadro complexo de exercício de poder, ao qual não é estranho o convencimento de que é preciso explicar as coisas muito bem explicadas ao rebanho, claramente impreparado para os grandes desígnios do homem novo e de uma sociedade nova. Sociedade nova surpreendentemente começada no Estados Unidos, como dizia Soares, apesar do presidente afro-americano e que seria bom que a Europa copiasse, ou o dilúvio vem aí.

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