domingo, abril 26, 2009

Onde é que eu estava no dia 24 de Abril?


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A Cristina gosta destes desafios e eu gosto de responder aos desafios da Cristina. Em boa verdade o desafio refere-se ao 24 de Abril mas eu, confesso, não faço a mínima ideia do que é que estaria a fazer nesse dia. Mas a 25, sim, lembro-me bem.

«Em Lisboa as coisas iam acontecendo. Entre o “e depois do adeus”, “Grândolas”, chaimites e espingardas com cravos, a dinâmica estava criada. Eu, longe do mundo, voava a 15.000 pés, a uma velocidade de cerca de 400 km/h num Cessna tornado minúsculo no meio do contraste forte entre o branco intenso dos cúmulos e o azul do céu, a caminho de um lugar conhecido como Baixa de Cassange. A Baixa de Cassange era um dos caprichos de Deus quando fez a Terra, escavando uma depressão de cerca de 25.000 km2 num planalto de 1200 metros de altitude.

Eu era um jovem, iniciado nos segredos da profilaxia vegetal e Abril era um mês de intenso trabalho na Baixa de Cassange. Um mês quando as temperaturas elevadas dos três meses anteriores e a humidade relativa proporcionavam um vasto universo de insectos devoradores de algodoeiros. Saíra de Luanda por volta das sete da manhã, na companhia do piloto Carlos S. de uma empresa que se chamava, à altura, CTA e cheguei ao destino, uma terra chamada Cunda, por volta das nove e meia onde, depois do habitual e aconselhável voo rasante para ver se havia cabras na pista (pista que, em boa verdade, era um caminho de cabras, ”aterrável” por via de um par de passagens com motoniveladora), acabámos por aterrar sem matar cabra nenhuma.

O dia passou-se normalmente, entre a observação de bichezas à lupa, contagem de gotículas de produtos químicos por cm2 de folhas, abertura de cápsulas de algodão à cata de ovos e lagartinhas, um almoço de galinha assada e cerveja e alguma papelada e troca de impressões entre técnicos das várias companhias e pilotos que operavam no local.

Já ao cair da noite metemo-nos nos respectivos aviões e voámos para Malange, a cidade mais próxima onde dormiríamos até ao dia seguinte. Ao jantar, a notícia foi-nos dada. Tinha havido uma revolução no “puto”… Marcelo estava preso… não havia mortos nem feridos mas a situação estava tensa… tudo muito vago e algo confuso. Ao princípio não acreditei, mas notícias em onda curta confirmaram que sim, que tinha havido uma revolução durante o dia.

Nessa noite dormi mal. Acho que não estava preparado para me aperceber da dimensão dos acontecimentos, mas pressentia profundas mudanças na minha vida. Foi talvez o pensamento mais certo que tive. No dia seguinte interrompi o trabalho e disse ao piloto para regressarmos a Luanda. E, realmente, começaram nesse dia as tais grandes mudanças da minha vida…»

Pronto. E eu agora deveria nomear mais uns quantos. Mas como a Cristina já nomeou um milhão, poucos mais ficaram para nomear. Acho que o melhor mesmo é nomear toda a gente que o queira fazer. Porque, já agora, também estou curioso com alguns.

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5 Comments:

At 11:48 da manhã, Blogger Film School disse...

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Regards,

Felix

 
At 11:49 da manhã, Blogger Film School disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 10:55 da tarde, Blogger Cristina disse...

Obrigada, Espumante. Decididamente deves ter sido o que viu a melhor paisagem, nesse dia. kais cravos!!

:)))))

beijinhos

 
At 6:59 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Felix GomesBe my guest

 
At 7:00 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Cristinakais cravos, kais rosas... a Manela Moura Guedes ainda era muito pequenina
:)))))

 

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