quinta-feira, março 06, 2008

Utentes e clientes


[2368]

João Miranda responde assim a Paulo Guinote, a propósito do escarcéu que se gerou á volta do artigo que o JM publicou no DN:

“…Paulo Guinote, como muitos dos seus colegas, é incapaz de pensar o sistema de ensino para lá do pequeno mundo da sua escola. Fazer umas manifestações, sem sequer ter a mínima ideia como é que o sistema de ensino poderia funcionar num regime de liberdade, não é uma manifestação de autonomia. É uma manifestação de impotência…”

“…Só recorre ao processo político para resolver problemas profissionais quem não tem forma de dirigir a sua própria vida pelos seu próprios meios…”

“…Basta ler a resposta ao meu artigo para perceber que Paulo Guinote nem sequer consegue lidar com a crítica à sua classe profissional de forma objectiva e impessoal. Quando os membros de uma profissão não são capazes de analisar objectivamente a sua actividade e a dos seus colegas o resultado é que essa profissão não se poderá corrigir….”

Ler o post todo aqui.

Já na altura da reacção ao artigo no DN se registou uma reacção lamentável na base do insulto e na ausência de argumentação sólida. Exemplos:

“João Miranda: por qué no te callas?”
“Perdoai-o, meu Deus, porque não sabe o que diz.”
“quem lhe dera a si chegar aos calcanhares do prof Paulo Guinote”
“o Miranda é um asno! Que me perdoem os quadrúpedes.”
“daqui a gerações, este sujeito vai ser um “case study”. O último do Australopitecos, talvez seja o título.”
“Mas convenhamos… até para flatulência é demasiado estúpido.”

(Compilação de insultos pelo JCD, a maior parte deles no primeiro post)

A história repete-se e o post do João Miranda gera um punhado de comentários do mesmo jaez. Alguns deles são pueris e estéreis, sem base e apenas ressabiados, género “quem dera ao João Miranda chegar aos calcanhares do Paulo Guinote”.

A verdade é que este tipo de movimentação panfletária e herdeira de uma certa forma de fazer política que eu pensei estar já desbotada continua a fazer escola (atente-se neste caso, um verdadeiro paradigma panfletário de luta, atacando o ME e deixando a ideia de que o professor Manuel Cardoso foi forçado a retractar-se – quiçá torturado …-).

Tudo isto é profundamente lamentável e fere a sensibilidade daqueles que mesmo achando o actual governo muito mau e que os métodos da ministra possam não ser os mais avisados esbarram com uma reacção corporativa e fortemente politizada do tipo da que se está a evidenciar.

Porque a verdade é que ninguém poderá ignorar uma forte componente política em toda esta situação. Certamente não por parte de todos os professores que vão manifestar-se no Sábado mas por quem mostra saber da poda, na manipulação dos descontentes. E depois há todo um abismo no conceito que se tem hoje de liberdade entre aqueles que são livres de escolher e progredir numa carreira e os que consideram que o emprego é um bem adquirido e o Estado uma agência de emprego. É que liberdade não é apenas podermos dizer o que nos apetece nem defender as “conquistas” e os “direitos” alcançados. Liberdade é, também e sobretudo, podermos escolher, optar, decidir e sermos livres de eximir os nossos filhos e netos à carga ideológica que se abateu sobre a escola portuguesa. É oportuno, ainda e a título de exemplo, recordar as lágrimas de crocodilo de Ana Benavente, para aqueles que tiverem um pouquinho de memória (Aliás é curioso como uma certa esquerda se posiciona hoje na condenação das políticas destrutivas da educação em que ela própria activamente se engajou, há poucos anos atrás. É de uma profunda irritação). E aquilo a que os nossos filhos estão a assistir é um acto político de grande impacto. E não devia ser.

NOTA: Pegando nos comentários ao post do JM é verdade que há professores que deveriam saber estabelecer a diferença entre cliente e utente, para além da semântica. Talvez se resolvesse muito conflito.


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1 Comments:

At 11:43 da manhã, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante
Das palavras de Manuel Cordeiro retiraste uma indelicadeza para com a Ministra. Mas o problema que ele levantou é bem mais grave e merecedor da tua atenção, bem como de todos nós.
Um abraço

 

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