terça-feira, novembro 06, 2007

Há quem acorde insecto, há quem acorde assim



[2123]

Esta manhã acordei com a sensação nítida que estavas cá. Uma sensação nítida mas estranha, porque não sei, sequer, se existes. Mas estavas cá e vi-te com a clareza que só a luz de Lisboa permite. Vinhas meia a sorrir, meia triste, mas sempre muito bonita, apesar daquele ar de permanente preocupação que sempre tens. Não me perguntes como é que consigo perceber todos estes pormenores, afinal nem sequer te conheço, nem sequer sei se existes.

Mas lá vinhas tu. Ar casual, jeans informais, blusa de marca mas sapatilhas vulgares, nada a ver com os sapatos que já vira em ti, tão perfeitos que nem pregas de ajuste se viam e te assentavam como uma luva. E, repito, não me perguntes como nem porquê. Não só não te conheço, como não sei sequer se existes, muito menos o tipo de roupa e sapatos que usas. Mas era assim que vinhas. Quase calada, trocavas, todavia, algumas palavras imperceptíveis com uma outra mulher que vinha contigo. Seguravas uma bolsa Vuitton que não dava com as jeans, mas sei que és suficientemente distraída para não reparares ou, reparando, não te interessares pela discrepância. Apesar de odiares discrepâncias. Sei muito bem como gostas de tudo bem ordenado na arrumação da tua memória. E como te irritas, cada vez que o vento da vida te levanta recordações e te desarruma por dentro. E não me perguntes como é que
eu sei isto, porque não te conheço, nem sequer sei se existes.

E depois chegaste ao pé de mim e disseste uma ou duas coisas banais, casuais e que tanto fazia que as dissesses como não. Por isso não me lembro o que foi. Só sei que disseste. E devo ter ficado satisfeito, como satisfeito fico sempre que oiço a tua voz pausada, de timbre baixo, mas bonito, meigo e com aquele toque de diálogo inteligente que só tu sabes ter, mesmo falando das coisas mais comezinhas. E não me perguntes como é que eu sei isto, porque não sei quem és. Não te conheço e nem sequer sei se existes. Olhei-te de frente e os teus olhos brilhavam muito, muito. Nunca os vira brilhar tanto, apesar de eu não saber como são os teus olhos, já que não sei sequer se existes. Mas estavam brilhantes e eu apostava que sorriam. Sozinhos. Sem necessidade de outras ajudas que não fosse o brilho próprio e uma pupila profunda, uma espécie de porta encantada para um universo inteiro de coisas que eu gosto.

E eu sorri. Mas devo ter dito qualquer coisa que, aparentemente, não te agradou. De tal maneira que a tua imagem se desvaneceu gradualmente, afastaste-te e, de repente, desapareceste. Entretanto acordei estremunhado e, segundos depois, fui tomar café. Não pensei mais no assunto. Afinal não sei se te conheço. Não sei sequer se existes.

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12 Comments:

At 10:13 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Ola Nico

Assim "ta melhor" ! Este esta mesmo muito lindo ! Talvez no proximo sonho já estejas mais positivo e mudes o fim ! Os sonhos acabam sempre em bem ou não fossem eles cor de rosa.

"Sempre que um homem sonha o mundo pula e avança"

Joquinhas
Di

PS Depois explico porquê Nicolau...enquanto nos entretermos a comer o cozido

 
At 6:31 da tarde, Blogger LurdesMartins disse...

Seja ela quem for, exista ela ou não, foi já a causadora de um texto fantástico! Do sonho já não posso dizer nada...

Beijinhos

 
At 6:51 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Cá p´ra mim ela existe e não vai desaparecer não...

 
At 7:38 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Di
temos que sort out esta coisa do cozido e do Nico asap. E há maneira mais delicada para falar no assunto?
:)

 
At 7:39 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Lurdes
Há sempre uma palavrinha doce do "Auxiliar" :)))
Beijinho

 
At 7:39 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

anónimo
Pronto, entao está decidido. Existe e não desaparece...
:)

 
At 8:27 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Espumante
Adorei este texto.
Eu também me irrito (irritar, não, entristecer), quando o "vento da vida me levanta recordações e me desarruma por dentro".
Parabéns, Espumante.
Beijinhos

 
At 2:11 da manhã, Blogger Sinapse disse...

Muito bonito, o texto! Há sonhos que inspiram ... e tu acordaste inspirado!

 
At 11:22 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Apetece-me dizer: Po..a! Quando começas a escrever bem nunca mais paras. Até mete raiva! :)))
Bendito sonho que te fez soltar tudo do mais "profundis" possivel
???????

 
At 9:16 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

laura
Um beijinho pela tua simpatia. És o elogio doce de sempre
:)

 
At 9:17 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

sinapse
Ele há dias...
:)

 
At 9:18 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

anónimo das 11:22
Por mim, diz porra à vontade. Por mim, já disse, por não fazer a mínima ideia de quem sejas...
:)

 

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