Deus, no sentido lato da coisa
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As barbearias continuam a ser um local de excelência para aumentarmos o acervo dos nossos conhecimentos. Foi assim que um caldinho no Luís Novais Tito me possibilitou ficar a saber mais sobre as origens do Pão por Deus, versão portuguesa do globalizado Trick or Treat dos americanos, se bem que, naturalmente, a tradição portuguesa seja mais antiga. Não admira, somos mais velhos, temos mais tradições, depois há o fado, o destino, os pobrezinhos, a desgraçadinha e assim. Aqui deixo, pois, os meus agradecimentos ao LNT.
Mas isto para dizer que me apareceu um rancho de miúdos à porta a pedir pão por Deus. Vendo que estavam bem vestidinhos e se expressavam bem, longe portanto da imagem estereotipada do pobrezinho com moscas, descalço e com fome, puxei por eles e acabei por perguntar se preferiam dinheiro ou um pãozinho saloio, o que estaria sempre mais de harmonia com o espírito da coisa. A resposta veio célere e determinada: - Dinheiro. Porque estamos a ver se juntamos o suficiente para comprar uma Play Station.
Perante esta franqueza, acabei por participar no pecúlio desejado para a play station. A seguir, experimentei uma sensação estranha, uma espécie de remorso em panela de pressão, qual fosse a de desejar que aparecessem mais miúdos a pedir-me pão. Ou bolos. Ou qualquer coisa que se comesse. Mas não apareceu ninguém. Felizmente. Pelo que a minha contribuição foi directamente parar ao espectro consumista que qualquer psicólogo encartado da RTP poderia descascar com eficácia e fazer um programa sobre o assunto e explicar-me o fenómeno dos pobrezinhos que andam a pedir pão para Deus lhes dar uma play station.
Mas sabem? Talvez tenha sido melhor assim…
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As barbearias continuam a ser um local de excelência para aumentarmos o acervo dos nossos conhecimentos. Foi assim que um caldinho no Luís Novais Tito me possibilitou ficar a saber mais sobre as origens do Pão por Deus, versão portuguesa do globalizado Trick or Treat dos americanos, se bem que, naturalmente, a tradição portuguesa seja mais antiga. Não admira, somos mais velhos, temos mais tradições, depois há o fado, o destino, os pobrezinhos, a desgraçadinha e assim. Aqui deixo, pois, os meus agradecimentos ao LNT.
Mas isto para dizer que me apareceu um rancho de miúdos à porta a pedir pão por Deus. Vendo que estavam bem vestidinhos e se expressavam bem, longe portanto da imagem estereotipada do pobrezinho com moscas, descalço e com fome, puxei por eles e acabei por perguntar se preferiam dinheiro ou um pãozinho saloio, o que estaria sempre mais de harmonia com o espírito da coisa. A resposta veio célere e determinada: - Dinheiro. Porque estamos a ver se juntamos o suficiente para comprar uma Play Station.
Perante esta franqueza, acabei por participar no pecúlio desejado para a play station. A seguir, experimentei uma sensação estranha, uma espécie de remorso em panela de pressão, qual fosse a de desejar que aparecessem mais miúdos a pedir-me pão. Ou bolos. Ou qualquer coisa que se comesse. Mas não apareceu ninguém. Felizmente. Pelo que a minha contribuição foi directamente parar ao espectro consumista que qualquer psicólogo encartado da RTP poderia descascar com eficácia e fazer um programa sobre o assunto e explicar-me o fenómeno dos pobrezinhos que andam a pedir pão para Deus lhes dar uma play station.
Mas sabem? Talvez tenha sido melhor assim…
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Etiquetas: bloggers, pão por deus
7 Comments:
É melhor assim, é.
Até porque quando os pobres perceberem que a tradição é com eles e não com os miúdos que pedem dinheiro para as play station, as coisas irão piar mais fino.
Oxalá não aconteça.
Abraço
"Estamos a ver se juntamos o suficiente para comprar uma Play Station" é, mais do que um poupar, um estado de espírito muito actual e moderno.
pois na minha rua ainda existem os outros, os que ficam com os olhos a brilhar com um pacote de bolachas. a são muitos...
lnt
Se alguma vez se chegar a um estádio de desenvolvimento em que nenhuma criança "perceba" a tradição do pão por deus, estaremos, certamente, num mundo melhor...
jcd
Concordo. Sobretudo do ponto de vista em que os estados de espírito se vão sobrepondo às tradições.
cristina
O meu post não significa rigorosamente mais nada que o relato de um episódio, sem qualquer carga crítica. Foi, mesmo, o relato de um episódio a que achei graça, pelo especiente e franqueza dos miúdos. E, sim. Acredito que há ainda muitas crianças que se babam por um pacote de bolachas. Infelizmente.
Eu preparo-me de véspera porque aqui o pão-por-deus tem uma grande tradição. Este ano acho que tive cerca de 50 miúdos. Abri-lhes a porta no primeiro ano que aqui estive e agora vêm direitinhos à minha porta. Gosto muito de os receber e ver as caritas de felicidade perante as guloseimas. Escrevi sobre o pão-por-deus no GR :-)
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